segunda-feira, 30 de março de 2009

Leite Derramado

Brincalhão, mas não ingênuo

As flutuações entre presente e passado, realidade e fantasia, são asseguradas, com total precisão, pela maestria literária de Chico Buarque

ROBERTO SCHWARZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Leite Derramado" é um livro divertido, que se lê de um estirão. O título refere-se a um casamento estragado pelo ciúme e, indiretamente, ao curso das coisas no Brasil. Aos leitores mais atentos o romance sugere uma porção de perspectivas meio escondidas, que fazem dele uma obra ambiciosa. Os amigos de Machado de Assis notarão o paralelo com "Dom Casmurro".
Entre as façanhas da narrativa está a figura de Matilde, uma garota incrivelmente desejável feita de quase nada. Quando ela entra no mar, daquele jeito dela, é "como se pulasse corda". "Saía da igreja como quem saísse do cinema Pathé" e circulava pela fila de pêsames "como se estivesse numa fila de sorveteria". O ciúme que ela desperta no marido-narrador, Eulálio d'Assumpção (com "p", para não ser confundido com os meros Assunção), é o pivô do livro e dá margem a sequências e análises memoráveis.
Note-se, para contrabalançar a impressão de encantamento juvenil, que o narrador é um homem de cem anos, internado à força num hospital infecto. Entre gritos, vizinhos entubados e baratas andando na parede ele recorda -a 80 anos de distância- o breve casamento em que foi feliz e traído (em sua opinião). De tempos em tempos a boa lembrança ainda é capaz de transformar o macróbio acamado em "maior homem do mundo", metáfora que é uma indecência alegre. Por sua vez, o feitiço irreverente de Matilde, entre modernista e patriarcal, também foge ao decoro: a esposa perturbadora não tem ginásio completo, é mãe aos 16 anos e assobia para chamar os garçons, além de ser aluna-problema do Sacré Coeur e congregada mariana.
Como tudo que é interessante, o ciúme e o amor não se esgotam em si mesmos. Entre várias irmãs claras, Matilde é a única escura, para desgosto da sogra, que entretanto tem um irmão beiçudo. Mais adiante se saberá que a moça é filha adotiva duma escapadela baiana do pai. Os seus conhecimentos de francês e a sua cultura geral deixam a desejar, envergonhando o marido, que nos momentos de ciúme acha que casou com uma mulher vulgar. Para educá-la ou humilhá-la ele gosta de encher a boca "para contar como é um transatlântico por dentro". Em plano diferente mas aparentado, a pele "quase castanha" da menina combina com cetim laranja, o que deslumbra e enfurece Eulálio, que preferiria que ela usasse roupa mais fechada, de tons mais discretos. Em suma, tanto o amor como o ciúme se alimentam da desigualdade de classe e de cor, que segundo a ocasião funcionam como atrativo ou objeção. Estamos em plena comédia brasileira.
Quando é abandonado por Matilde, que vai embora sem dar explicação, Eulálio não se desinteressa das mulheres. Como Dom Casmurro ele recebe visitas femininas em seu casarão, às quais pede que vistam as roupas da outra, insubstituível. A relação desigual, em que nome de família, dinheiro e preconceito de cor e classe se articulam com desejo e ciúme, forma um padrão consistente, que vira cacoete. Os seus desdobramentos mais reveladores ocorrem no hospital, onde o patriarca centenário, agora já sem tostão, faz a corte a praticamente todas as enfermeiras de turno, a que promete casamento, roupas finas, nome ilustre, palacete e baixelas, desde que se dediquem só a ele. A uma delas, como um eco dos atritos com Matilde, ele garante que não irá perguntar o que ela faz durante as suas tardes, quando não está com ele, nem vai se envergonhar dela em sociedade.

Lembranças e digressões
Por momentos Eulálio acha que está ditando as suas memórias às enfermeiras, em cuja gramática não confia. Como elas não lhe dão maior bola, o leitor conclui que estão apenas preenchendo o prontuário hospitalar, pedindo o ano de nascimento e a filiação do paciente que fala pelos cotovelos. Seja como for, entre anedotas familiares, lembranças e digressões, ele vai desenrolando a história dos Assumpção, começando no século 15 e chegando a um incerto tataraneto em 2007.
Quanto aos antepassados, as memórias têm algo dum samba do crioulo doido da classe dominante. Depois de chegar ao Brasil na comitiva de dom João 6º, quando um trisavô serviu de confidente a dona Maria, a louca, a família dedica-se ao tráfico negreiro e, mais adiante, a negociatas propiciadas pelo abolicionismo, visando repatriar os negros à África. Já na República, o pai de Eulálio é um senador belle époque, fixado em loiras e ruivas, de preferência sardentas, além de ser homem de confiança dos armeiros franceses, que através dele vendem canhões obsoletos ao exército brasileiro. Quanto aos descendentes, a filha baixa o nível ao casar com um filho de imigrante, o neto sai comunista da linha chinesa e o bisneto, nascido na cadeia onde o pai esteve preso e foi morto, é um crioulo, pai por sua vez de um garotão traficante de drogas, que aparecerá no "Jornal Nacional" de cara encoberta pela jaqueta. Do ângulo senhorial, a degringolada não podia ser maior. Do ângulo a que o livro deve a sua acidez e qualidade, alguma coisa na família pode ter melhorado, nada piorou, e no essencial ficaram elas por elas.
A nulidade do próprio Eulálio é quase total, uma verdadeira proeza artística a seu modo. Como ele mesmo é o narrador, temos uma situação literária machadiana, em que a crítica social não se faz diretamente, mas pela autoexposição "involuntária" de um figurão. Recapitulando sua vida com propósito sentimental, este sem querer vai entregando os segredos de sua classe, em especial os podres. O pressuposto desta solução formal -trata-se de uma forma em sentido pleno- é uma certa conivência maldosa entre o autor e o leitor esperto, às expensas do canastrão que está com a palavra. O virtuosismo com que Chico encarna em primeira pessoa a mediocridade e os preconceitos oligárquicos de seu narrador, tornando-o extremamente interessante, e aliás sempre engraçado, é notável. Além da referência machadiana, provavelmente deliberada, há uma afinidade de fundo com a ficção de Paulo Emílio Salles Gomes, outro mestre na denúncia travestida de recordação.
Assim, quando perde o pai, Eulálio trata de lhe seguir os passos ilustres. Enverga uma das gravatas inglesas do senador, vai tomar cafezinho com políticos nos respectivos gabinetes, passa pelo escritório da Le Creusot, a firma francesa cujas negociatas o grande homem facilitava, leva bombons à secretária, fuma uns charutos, dá uma chegada ao banco e antes das quatro volta para casa. Como não é senador, agora ficou tudo mais difícil e precisa ele mesmo fazer a fila para desembaraçar a mercadoria na alfândega. As coisas já não funcionam como antes, mas ainda assim o esquema da família "cujo nome abre portas" é luminoso como um sonho e vale uma citação extensa. À maneira do Machado da "Teoria do Medalhão", o romancista fixa um tipo nacional.
"Mas eu não tinha dúvidas de que, para mim, a porta certa se abriria sozinha. De trás dela, me chamaria pelo nome justamente a pessoa que eu procurava. E esta me anunciaria com presteza à pessoa influente, que desceria as escadas para me buscar. E me abriria seu gabinete, onde já me aguardariam varias chamadas telefônicas. E pelo telefone, poderosas pessoas me soprariam as palavras que desejavam ouvir. E de olhos fechados, eu molharia pelo caminho as mãos que meu pai molhava. E pelo triplo do preço tratado me comprariam os canhões, os obuses, os fuzis, as granadas e toda a munição que a Companhia tivesse para vender. Meu nome é Eulálio d'Assumpção, não por outro motivo a Le Creusot & Cie. me confirmou como seu representante no país."
Dito isso, há um ponto em que Eulálio não é medíocre. O seu gosto pelas mulheres é forte e lhe dita condutas e análises surpreendentes, em dissonância com a sua frouxidão geral, com seus preconceitos de toda ordem e as obnubilações do ciúme. Longe de ser um erro na construção da personagem, o desnível compõe um tipo. Ainda aqui estamos em águas machadianas, onde também a fibra amatória é a exceção que escapa a certo rebaixamento genérico e derrisório imposto pela condição de ex-colônia às elites brasileiras. Como marca local, a desproporção entre a intensidade da vida amorosa e a irrelevância da vida do espírito é uma caracterização profunda, com alcance histórico, a que o romance de Chico Buarque acrescenta uma figura.

Sem resposta
O núcleo romanesco da intriga -o seu elemento de sensação- é o desaparecimento inexplicado de Matilde. Ela se foi com o engenheiro francês? Fugiu aos ciúmes do marido? Caiu na vida? Pegou uma doença e quis morrer fora da vista dos seus? Morreu num acidente de carro, acompanhada de um homem? Ao sabor da oportunidade, as explicações são adotadas pelo próprio marido, pela sogra, pela mãe adotiva, pela filha, pelas coleguinhas desta, pelo pároco da Candelária, que veio tomar chá, e pela voz anônima da cidade. Como em "Dom Casmurro", não há resposta segura para o traiu-não-traiu, e o livro é construído de maneira a alimentar o ânimo fofoqueiro dos leitores. Em duas ocasiões antológicas, atormentado pelo ciúme, que o empurra a barbarizar, Eulálio vê a sua certeza se desfazer em nada. Por outro lado, se a incerteza dos fatos, da cronologia e da memória está no centro da intriga, a realidade que se forma à sua volta é clara e sólida, sem nada de indecidível, e as dúvidas do narrador se encaixam nela com naturalidade, compondo um panorama social amplo, de muita vivacidade. A carpintaria atrás do jorro aleatório das recordações é realista e controlada até o último pormenor.
Pelo foco nos Assumpção, pelo arco de tempo abarcado e pelas questões de classe e raça, "Leite Derramado" pareceria ser um romance histórico ou uma saga familiar, coisas que não é. Como nos filmes em que a ambientação diz tanto ou mais do que a intriga, o pano de fundo contemporâneo talvez seja a personagem principal, a que Eulálio, a despeito das presunções, se integra como um anônimo qualquer. A pretexto disso e daquilo, da petulância popular de Matilde, das surras de chicote que são tradição na família, do horror aos hospitais públicos ou do samba na vitrola, o que se configura é a modernização na variante brasileira, em que tudo desemboca.
Os Assumpção, que passam de acompanhantes de dom João 6º a barões negreiros, a aproveitadores do abolicionismo e a traficantes de influência na República Velha, são antes uma categoria social do que uma família e importam menos do que o tempo que os atravessa.
Não há encadeamento interno individualizando e separando as estações, as quais compartem a condição antediluviana, recuada de uma era. Elas funcionam como o passado senhorial em bloco por oposição ao presente moderno, ou também, pelo contrário, como a prefiguração deste e de sua desqualificação. A tônica recai na diferença entre os tempos? Na superação de um pelo outro?
Na decadência? Na continuidade secreta? Quem configura a resposta, que não é simples, é o vaivém entre antes e agora, operado pela agilidade da prosa. Os jardins dos casarões de Botafogo são substituídos por estacionamentos, os chalés de Copacabana por arranha-céus, as fazendas por favelas e rodovias, e as negociatas antigas por outras novas, talvez menos exclusivas. A relação desconcertante dessa periodização com as ideias correntes de progresso -ou de retrocesso- faz a força do livro, que é brincalhão, mas não ingênuo. As flutuações entre presente e passado, realidade e fantasia, ângulo familiar e ângulo público são caucionadas, no plano da verossimilhança psicológica, pela confusão mental do narrador. No plano da técnica narrativa elas são asseguradas, com total precisão, pela maestria literária de Chico Buarque, o romancista, para quem o narrador de anteontem é um artifício que permite sobrepor e confrontar as épocas.
É claro que não se trata aqui das derivas da memória de um ancião, mas de invenções do artista, sempre intencionais, carregadas de humorismo e ambiguidade. Para não perder a nota específica, ligada à história nacional, é preciso ter em mente a substância polêmica de cada situação, com a sua parte de alta comédia. O barão negreiro, por exemplo, foi uma glória da família, continua a sê-lo para Eulálio, mas é um malfeitor para os pósteros.
Mesma coisa para o avô abolicionista, um benfeitor tão problemático quanto o outro: em vez de integrar os negros à sociedade brasileira, como quer a consciência de hoje, ele quer devolvê-los à África e ganhar dinheiro na operação. Já o pai senador, um pró-homem da República, representa bem o que pouco tempo depois se chamaria um lacaio do imperialismo.
Assim, trazendo escravos ou mandando-os de volta, cobrando e torrando comissões ilegais, os Assumpção vão cumprindo o seu papel de classe dominante, europeizadíssimos e fazendo tudo fora da lei. A dissonância entre a autoimagem e a imagem que a história fixaria deles em seguida -mas será que fixou?- impregna a narrativa de comicidade politicamente incorreta do começo ao fim.

Senso crítico
O padrão da prosa, que tem correspondência profunda com esse quadro geral, é muito brilhante. Por um lado, a fala de Eulálio é salpicada de expressões um pouco fora de uso, indicando idade e privilégio social; por outro, a sua leveza e alegria são netas do modernismo e de uma estética contrária à afetação. Assim, a fala é e não é de Eulálio, ou melhor, ela é uma imitação cheia de humor, impregnada de senso crítico.
O seu andamento ligeiro dissolve as presunções senhoriais, que se transformam em ilustrações quase didáticas dos despropósitos de outrora. "Nunca uma nódoa, uma ruga na roupa, meu pai de manhã sai do quarto tão alinhado quanto entrou de noite, e quando menor eu acreditava que ele dormia em pé feito cavalo".
Esquematizando, digamos que os termos antigos ora são de gente graúda, marcando autoridade ou truculência, ora são familiares, marcando a informalidade também tradicional. Esta segunda vertente envelheceu menos e guarda parentesco de fundo com a familiaridade sem família de nossos dias, representada no caso pela TV sempre ligada no mais alto, pela polícia trafegando na contramão, pela desgraceira nos hospitais populares, pela trambicagem geral, pela cidade que não termina, pela sem-cerimônia em público, pela gramática desautorizada. É como se o presente continuasse a informalidade do passado patriarcal, multiplicando-a por mil, dando-lhe a escala das massas, para melhor ou para pior.
Talvez seja isso o "leite derramado" que não adianta chorar: persistiu a desigualdade, desapareceram o decoro e a autoridade encasacada, e não se instalaram o direito e a lei. É o que no interregno entre antigamente e agora se chamava modernização sem revolução burguesa. Sem saudosismo nem adesão subalterna ao que está aí, a invenção realista de Chico Buarque é uma soberba lufada de ar fresco.


Avaliação: ótimo

ROBERTO SCHWARZ, 70, é crítico literário, autor de "Ao Vencedor as Batatas", entre outros.

Fonte: Folha,
28 de março de 2009

domingo, 29 de março de 2009

Peter Szondi sobre Paul Celan


Foto recente do Landwehrkanal, onde, depois da execução, os corpos de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foram jogados.



Du liegst im grossen Gelausche,

umbuscht, umflockt.

Geh du zur Spree, geh zur Havel,

geh zu den Fleischerhaken,

zu den Äppelstaken

aus Schweden -

Es kommt der Tisch mit den Gaben,

er biegt um ein Eden -

Der Mann ward zum Sieb, die Frau

musste schwimmen, die Sau,

für sich, für keinen, für jeden -

Der Landwehrkanal wird nicht rauschen.

Nichts

stockt.


****

You lie amid a great listening,

enhedged, enflacked.

Go to the Spree, to the Havel,

to the butcher's hook,

the red apple stakes

from Sweden -


Now comes the gift-laden table,

it turns around an Eden -


The man became a sieve, the woman,

the sow, had to swim,

for herself, for no one, for everyone -


The Landwehr Canal will not murmur.

Nothing

stops.

(tradução de Susan Bernofsky com Harvey Mendelson)

ps.: a última palavra do poema não está, nem no original nem na tradução, alinhada com as demais que inciam versos. Está em disposição semelhante à da terceira palavra de cada verso. Não foi possível reproduzir esse recurso na transcrição. Para mais detalhes, checar a diagramação original no ensaio abaixo.


Versão em inglês do ensaio de Peter Szondi sobre um dos poemas do último livro de Paul Celan, Schneepart (partilha ou repartição da neve). Esse texto faz parte de uma coletênea de escritos do crítico sobre o poeta, que ainda não foi editada em Português. Formato pdf.

Textos de Habermas


Textos de Jürgen Habermas em espanhol:


Fonte: Archivo Chile

quinta-feira, 26 de março de 2009

O anjo da História


Walter Benjamin - Sobre el concepto de historia / Tesis de filosofía de la historia (em espanhol), em pdf.

Theodor W. Adorno
- Sobre Walter Benjamin (em italiano), em pdf.

Terry Eagleton - El ángel de la historia: W. Benjamin y L. Trotsky (em espanhol), em pdf.


Fonte: Archivo Chile

quarta-feira, 25 de março de 2009

Crítica cultural e sociedade



Theodor W. Adorno - Prismas: la crítica de la cultura y la sociedad (em espanhol), em pdf.


Adorno e Horkheimer - Dialéctica de la Ilustración (em espanhol), em pdf.


Fonte: Archivo Chile

terça-feira, 24 de março de 2009

Frankfurtianos históricos

Max Horkheimer


Instituto de Pesquisa Social
- La Sociedad: Lecciones de Sociología (em espanhol), em pdf. [Título original: Soziologische Exkurse, conhecido em português como Temas Básicos de Sociologia.]

Max Horkheimer
- Crítica de la razón instrumental (em espanhol), em pdf. [Trata-se do livro Eclipse da Razão.]


Theodor W. Adorno - Epistemología e Ciencias Sociales (em espanhol), em pdf. Inclui o artigo "Sociedade".

Theodor W. Adorno - Opinión, demencia, sociedad (em espanhol), em pdf.

Adorno e outros - La disputa del Positivismo en la sociología alemana (em espanhol), pdf, em dois arquivos: arquivo 1 e arquivo 2.


Fonte: Archivo Chile

segunda-feira, 23 de março de 2009

Para Pensar o Brasil - Sílvio Romero

Sílvio Romero (1851-1914)
História da literatura brasileira (1888; 2ª ed. revista, 1902)

Informações bio-bibliográficas no Proyecto Ensayo Hispánico.

Textos de Romero:

História da literatura brasileira - tomo I e tomo II (Internet Archive)
ou:
História da literatura brasileira - tomo I e tomo II (google books, via Internet Archive)

O Brasil social e outros estudos sociológicos (Biblioteca do Senado)

domingo, 22 de março de 2009

Paul Celan - Todtnauberg ou a montanha da morte



Vista da porta fechada da cabana de Martin Heidegger, seu refúgio na "Montanha da Morte".


Abaixo, o poema Todtnauberg, publicado em 1970 no livro Lichtzwang (pressão da luz), seguido de tradução para o inglês, feita por Pierre Joris. Trata-se do famoso poema que Celan escreve na noite depois de sua visita à cabana de Heidegger, localizada num vilarejo a 16 milhas de Friburgo chamado "Todtnauberg" .


Todtnauberg

Arnika, Augentrost, der
Trunk aus dem Brunne mit dem draft
Sternwürfel drauf,

in der
Hütte.

die in das Buch
- wesen Namen nahms auf
vor dem meinen? -
die in dies Buch
geschriebene Zeile von
einer Hoffnung, heute,
auf eines Denkenden
Kommendes
wort
im Herzen,


Waldwasen, uneingeebnet,
Orchis und Orchis, einzeln,


Krudes, später, im Fahren
deutlich,


der uns fährt, der Mensch,
der's mit anhört


die halb-
beschriettenen Knüppel-
pfade im Hochmoor.



Feuchtes,

viel.


Todtnauberg

Arnica, eye-bright, the

draft from the well with the

star-die on top,


in the

Hütte.


written in the book

- whose name did it record

before mine? -

in this book

the line about

a hope, today,

for a thinker's

word

to come,

in the heart,


forest sward, unleveled,

orchis and orchis, singly,



crudeness, later, while driving,

clearly,



he who drives us, the man,

he who also hears it,


the half-

trod-log

trails on the highmoor,



humidity,

much.



Ensaio de Pierre Joris , autor dessa tradução, discutindo uma outra, feita para a edição inglesa de Phillosophical Apprentiseships de Hans-Georg Gadamer. O mesmo ensaio, em formato doc.

Sobre Hegel


Leandro Konder - Hegel, a razão quase enlouquecida [4shared]

Paulo Arantes - Idéias ao léu (sobre o livro O Avesso da Dialética, de Gérard Lebrun) [4shared]

Herbert Marcuse - Razão e Revolução (em espanhol).

sábado, 21 de março de 2009

Hegel


Textos de Hegel:

sexta-feira, 20 de março de 2009

quinta-feira, 19 de março de 2009

Paul Celan





Mapa militar alemão da cidade natal de Paul Celan, Czernowitz.


Segue abaixo, entrevista com Jacques Derrida. Nela, o filósofo fala de sua relação com o poeta, do tipo de "apropriação" que ele faz da lingua alemã, além de discorrer sobre alguns trechos de seu livro, Schibboleth (1986), dedicado a Celan.



Jacque Derrida y Paul Celan

por Évelyne Grossman



Évelyne Grossman. -En Schibboleth, libro dedicado a Paul Celan, usted evoca la amistad que lo unió a él poco antes de su muerte. Usted se entrega entonces a una reflexión sobre la datación en los poemas de Celan, habla de la “reaparición espectral” de la fecha y dice: “No me entregaré aquí a mis propias conmemoraciones, no me entregaré a mis fechas”. ¿Podría, sin embargo, hablar un poco de su encuentro con Celan en París, durante 1968, si no me equivoco?
Jacques Derrida. -Intentaré hablar de ello. Ocurre que Celan fue colega mío en la École Normale Supérieure durante largos años sin que lo conociese, sin que verdaderamente nos encontráramos. Él era lector de alemán. Era un hombre muy discreto, muy borroso, inaparente. La presencia de Celan era, como todo su ser y como todos sus gestos, de una extrema discreción, elíptica, borrosa. Eso explica, al menos en parte, que durante varios años no hubiéramos tenido intercambio. Fue después de un viaje que efectué a Berlín en 1968, respondiendo a una invitación de Peter Szondi, cuando conocí finalmente a Celan. Peter Szondi, que llegó a ser amigo mío, era gran amigo de Celan, y cuando al poco tiempo vino a París me presentó ante él. Como situación es curiosa, pero al fin me habían presentado a mi colega y habíamos charlado un poco. De ahí dataron una serie de encuentros siempre breves, silenciosos, tanto de su parte como de la mía. Intercambiábamos libros dedicados, algunas palabras y luego desaparecíamos. Tengo el recuerdo de un desayuno en lo de Edmond Jabès. Éste, que conocía a Celan, nos invitó a los dos a su casa -vivía a unos pasos de la École Normale. Y de nuevo fue la misma cosa: Celan permaneció mudo durante el lapso de una colación y el lapso que siguió a esa colación. Creí que en él había una parte de secreto, de silencio, de exigencia también, que hacía que tomara la palabra no indispensable, y sobre todo sin duda las palabras se intercambian en el curso de una colación. Al mismo tiempo, había en él algo más negativo. Supe por otras vías que a menudo estaba desanimado o colérico o de muy mal humor con respecto al entorno parisino. Tuvo, creo, una experiencia más bien desesperada de sus relaciones con muchos franceses, con universitarios e incluso con colegas poetas o traductores. Creo que fue muy difícil en el sentido de la exigencia y de la paciencia. No obstante, a través de ese silencio, mantenía entre nosotros una gran muestra de cariño y afecto que leí en sus dedicatorias. Se suicidó dos años después, creo. Lo conocí en 1968 o 1969, y entonces el período del que hablo es un período de tres años a lo sumo, aunque en realidad es una secuencia extremadamente breve, sobre la cual medité después de modo más o menos continuo. La memoria de esos encuentros después de su muerte siguió trabajando, reinter-pretándose, entrelazada con lo que oí decir de él, de su vida en París, de sus amigos y pretendidos amigos, de los conflictos de traducción y de interpretación que usted sabe. La imagen que viene a propósito de Celan es la de un meteoro, un destello de luz interrumpido, una suerte de cesura, un momento muy breve y que deja una estela que he intentado captar a través de sus textos.

-Usted analiza en Schibboleth lo que llama “la experiencia de la lengua” en Celan, cierta manera “de habitar el idioma” (“firmado: Celan de tal lugar de la lengua alemana, que fue su única propiedad”). Y al mismo tiempo, dice usted, Celan sugiere que hay “una multiplicidad y una migración de lenguas en la lengua misma”: “Tu país, dice Celan, emigra a todas partes, como la lengua. El país mismo emigra y transporta sus fronteras.” ¿Hay que ver aquí un fantasma de pertenencia, lo inverso de un fantasma de pertenencia, o ambas cosas? ¿Cómo se puede comprender el habitar el lugar de una lengua múltiple y que migra?
-Antes de tratar de responder a esta pregunta difícil de modo teórico, hay que recordar la evidencia de los hechos. Celan no era alemán, el alemán no fue la única lengua de su infancia y no sólo escribió en alemán. Y sin embargo, hizo todo para, no diría apropiarse la lengua alemana, puesto que justamente lo que sugiero es que no se apropia una lengua sino para soportar un cuerpo a cuerpo con ella. Lo que trato de pensar es un idioma (y el idioma quiere decir lo propio justamente, lo que es propio) y una firma en el idioma de la lengua que hace al mismo tiempo la experiencia de la inapropiabilidad de la lengua. Creo que Celan ensayó una marca, una firma singular que fue una contra-firma de la lengua alemana y al mismo tiempo algo que adviene a la lengua alemana -que adviene en los dos sentidos de este término: que se aproxima a la lengua alemana, que acude a ella, sin apropiársela, sin someterse a ella, sin entregarse a ella, pero al mismo tiempo haciendo que la escritura poética advenga, es decir sea un acontecimiento que marque la lengua. En todo caso es así como leo a Celan, cuando puedo leerlo, porque tengo mi problema con el alemán y con su lengua alemana. Me hallo muy lejos de estar seguro de poder leerlo del modo justo, pero lo que me parece es que toca a la lengua alemana a la vez con respecto al genio idiomático de la lengua alemana, pero también en el sentido en que la hace moverse, en que le deja una suerte de cicatriz, de marca, de herida. Modifica la lengua alemana, toca a la lengua pero, para tocarla, es necesario que la reconozca, no como su lengua, puesto que creo que la lengua nunca pertenece, sino como la lengua con la cual ha elegido expresarse, en el sentido justamente del debate, de Auseinandersetzung, de explicarse con la lengua alemana. Como usted sabe también, Celan era un gran traductor. Pues lo fue como muchos poetas que son traductores: sabía cuál era el riesgo y la apuesta de sus traducciones. No sólo tradujo del inglés, del ruso, etc., sino en el interior mismo del alemán, hizo una operación que se podría quizá sin mucho abuso comprender como una interpretación traductora. Es decir que en su alemán poético hay una lengua de partida y una lengua de llegada y cada poema es una suerte de nuevo idioma en el cual hace pasar la herencia de la lengua alemana. Es una paradoja que sea un poeta que no es de nacionalidad ni incluso de lengua materna alemana el que no sólo haya tenido que hacer esto, sino el que haya impuesto su firma en una lengua que no podía ser para él, aparentemente, otra que el alemán. ¿Cómo explicar que, traductor como fue de tantas lenguas europeas, el alemán haya sido el lugar privilegiado en el cual escribió, firmó su poesía, por más que en el interior del alemán hizo venir otro alemán, u otras lenguas u otras culturas, puesto que hay en su escritura una cruza, en un sentido casi genético, de culturas, de referencias, de memorias literarias bastante extraordinaria, siempre en la condensación mínima, en la cesura, la elipsis, la interrupción?En cuanto a la cuestión de “habitar como poeta”, evidentemente Hölderlin es una de sus grandes referencias. ¿Qué cosa es “habitar una lengua”, allí donde se sabe que no hay nada propio en ella, que no es posible apropiarse una lengua...

-... y una lengua “que migra?
-¡Así es! Él mismo ha migrado y ha marcado en la temática de su poesía el movimiento del paso de las fronteras, como en el poema “Schibboleth”. No quiero enseguida, o muy rápido, o muy fácilmente como se hace algunas veces, evocar las grandes migraciones bajo el hitlerismo, no obstante eso no puede dejar de mencionarse. Esas migraciones, esos exilios, esas deportaciones son el paradigma de la migración dolorosa de nuestro tiempo y evidentemente la obra de Celan lleva toda esta clase de marcas, y su vida.

-Justamente, ya que evoca esta cuestión de las fronteras nacionales y lingüísticas, me gustaría ir a lo que usted llama -en El monolingüismo del otro- su monolengua. Usted desarrolla largamente esa paradoja de orden general, no solamente la suya: “Sí, no tengo más que una lengua, pero ella no es la mía.” Y subraya: “La guardia celosa que se ha montado junto a la lengua, allí mismo donde se denuncian las políticas nacionalistas del idioma (yo hice lo uno y lo otro), manda multiplicar los schibboleths en tanto desafíos a las traducciones, en tanto impuestos deducidos en la frontera de las lenguas…” Y concluye: “¡Compatriotas de todos los países, poetas-traductores, rebélense contra el patriotismo!” ¿Cómo concibe ese rol político de los poetas-traductores o de los filósofos-traductores que hablan de “la no-identidad en sí de toda lengua”?
-Como preámbulo, diría que no se puede, por mil razones muy evidentes, comparar mi experiencia, o mi historia, o mi relación con la lengua francesa y la experiencia de la lengua alemana en Celan. Por mil razones. Dicho esto, lo que escribí allí lo escribí también en memoria de Celan. Sabía que lo que decía en El monolingüismo del otro valía en cierta medida para mi caso singular, a saber tal generación de judíos de Argelia, pero que tenía también un valor de ejemplaridad universal, incluso para aquellos que no están en situaciones históricamente tan extrañas y dramáticas como la de Celan o la mía. Aun cuando no se tiene más que una lengua materna y uno está enraizado en su lugar de nacimiento y en su lengua, aun en ese caso, la lengua no pertenece. No dejarse apropiar hace a la esencia de la lengua. La lengua es eso mismo que no se deja poseer, pero que, por esta misma razón, provoca toda clase de movimientos de apropiación. Porque ella se deja desear y no apropiar, pone en movimiento toda clase de gestos de posesión, de apropiación. El desafío político de la cosa es que justamente el nacionalismo lingüístico es uno de esos gestos de apropiación, un gesto ingenuo de apropiación. Lo que trato de sugerir allí es que, paradójicamente, lo más idiomático, es decir lo más propio en una lengua, no se deja apropiar. Hay que tratar de pensar que allí donde se busca –es el caso de Celan– lo más idiomático de una lengua, uno se aproxima a los que, palpitando en la lengua, no se deja aprehender. Y entonces yo trataría de disociar, por paradójico que esto parezca, el idioma de la propiedad. El idioma es lo que resiste a la traducción, pues lo que aparentemente está atado a la singularidad del cuerpo significante de la lengua o del cuerpo a secas pero que, a causa de esa singularidad, se sustrae a toda posesión, a toda reivindicación de pertenencia. La dificultad política es: ¿cómo estar a favor de la más grande idiomaticidad –lo que hay que hacer, creo– defendiéndose en todo contra la ideología nacionalista? ¿Cómo defender la diferencia lingüística sin ceder al patriotismo, en todo caso a cierto tipo de patriotismo, y al nacionalismo? Tal es el desafío político de este tiempo. Algunos, para combatir al servicio de la causa justa del antinacionalismo, piensan que hay que precipitarse hacia la lengua universal, hacia la transparencia, hacia el borramiento de las diferencias. Me gustaría pensar lo contrario. Pienso que tendría que haber un tratamiento, un respeto del idioma, que no sólo se disocie de la tentación nacionalista, sino de lo que liga la nación a un Estado, al poder de un Estado. Creo que hoy se debería poder cultivar las diferencias lingüísticas sin ceder a la ideología o a la política Estados-nacionalista o nacionalista. La palanca de la política que desearía mover sería ésta: es porque el idioma no pertenece –y no puede entonces devenir la cosa, el bien de una comunidad nacional, étnica o Estado-nacional– que se precipitan hacia él todas las voracidades nacionalistas, todo el frenesí apropiador, y que es muy difícil hacer entender a algunos que se puede amar lo que resiste a la traducción sin ceder al nacionalismo, sin ceder a una política nacionalista. Porque, otro resorte de esta necesidad, a partir del momento en que respeto y cultivo la singularidad del idioma, es que lo cultivo como “mi casa” y “la casa del otro”, es decir que el idioma del otro (el idioma ante todo es otro, incluso para mí, mi idioma es otro) es respetable y por consiguiente debo resistir a la tentación nacionalista que es siempre una tentación imperialista o colonialista de desbordamiento de fronteras. Hay en esto toda una reflexión política que, más allá del corpus del que hablamos, me parece hoy tener un alcance general en Europa y fuera de Europa. Es evidente que hay actualmente un problema con las lenguas europeas, con la lengua de Europa, y que es cierto anglo-americano que deviene hegemónico, irresistiblemente. Todos hacemos la experiencia. Voy a Alemania, hablo el inglés durante tres días, únicamente inglés. Hemos hablado de estos problemas con Habermas, hemos hablado de ello en inglés. ¿Cómo hacer para que una nueva especie de inter-nación como Europa encuentre el medio de resistir a cualquier hegemonía lingüística, en particular la anglo-americana? Es muy difícil, tanto más cuando este anglo-americano violenta no sólo a otras lenguas sino incluso a cierto genio inglés o americano. Estos son debates muy difíciles y creo que los poetas-traductores, allí donde hagan la experiencia que describimos en este momento, son ejemplares políticamente. Son ellos los que han de explicar, de enseñar, que se puede cultivar e inventar el idioma, porque no se trata de cultivar un idioma dado sino de producir el idioma. Celan produjo un idioma, lo produjo a partir de una matriz, de una herencia sin -naturalmente, por razones evidentes- ceder al menor nacionalismo. Son, en mi opinión, esos poetas los que han de dar una lección política a los que insisten sobre la cuestión de la lengua y de la nación.

-Quisiera, para concluir, pedirle que comentara ese bello pasaje de Schibboleth, para Paul Celan, en el que habla de “la errancia espectral de las palabras”: “esta reaparición no viene a las palabras por accidente, después de una muerte que llegaría a ellas o que las exceptúa. La reaparición es la condición de todas las palabras, desde su primer surgimiento. Siempre habrán sido fantasmas, y esta ley rige en ellas la relación del alma y el cuerpo. No se puede decir que lo supimos porque tuvimos la experiencia de la muerte y del duelo. Esta experiencia nos viene de nuestra relación con esta reaparición de la marca, luego del lenguaje, luego de la palabra, luego del nombre. Lo que se llama poesía o literatura, el arte mismo (no distinguimos por el momento), dice de otra manera cierta experiencia de la lengua, de la marca o de la huella como tales, lo que no es quizá más que una intensa familiaridad con la experiencia poética y filosófica de la lengua (la de Celan y la de ustedes), esta “errancia espectral” de las palabras? ¿Las palabras están eternamente suspendidas entre la vida y la muerte, lo que las hace, como decía Artaud, “sempiternas”?
-Lo que intento decir ahí vale para la experiencia del lenguaje en general. Es un tipo de análisis de la estructura de la lengua en general. No me gusta la expresión “esencia” del lenguaje, quisiera dar un sentido más vivo y más dinámico a esta manera de ser, a esta manifestación de la espectralidad de la lengua que valga para todas las lenguas. La experiencia universal corriente de la lengua en general deviene aquí una experiencia como tal y aparece como tal en la poesía, la literatura, el arte. Habría mucho para decir sobre este “como tal”…Llamaría poeta a aquel que hace la experiencia de esto lo más en carne viva. Quienquiera que haga en carne viva la experiencia de esta errancia espectral, quienquiera que se entregue a esta verdad de la lengua, es poeta, escriba o no poesía. Se puede ser poeta en el sentido estatutario del término en la institución literaria, es decir escribir poemas en el espacio que se denomina “la literatura”. Llamo poeta a aquel que hace el pasaje con acontecimientos de escritura que dan un cuerpo nuevo a esta esencia de la lengua, que la hace aparecer en una obra. No quiero tomar esta palabra “obra” en un sentido fácil. ¿Qué es una obra? Crear una obra es dar un nuevo cuerpo a la lengua, dar a la lengua un cuerpo tal que esta verdad de la lengua aparezca allí como tal, aparezca y desaparezca, aparezca en retirada elíptica. Creo que Celan, desde este punto de vista, es un poeta ejemplar. Hay otros que hicieron en otras lenguas obras igualmente ejemplares, pero Celan, en este siglo, en alemán, ha firmado una obra ejemplar. Esto tiene una vez más un valor general y este valor general se ejemplifica de modo singular e irremplazable en la obra de Celan. Eso vale para todo el mundo y para Celan en particular.

-¿Diría que es necesario haber sido, como Celan quizá, capaz de vivir la muerte de la lengua para poder intentar decir esta experiencia “en carne viva”?
-Me parece que, a cada instante, debió vivir esa muerte. De diversas maneras. Debió vivirla en todos aquellos lugares en los que sintió que la lengua alemana era asesinada de alguna manera, por ejemplo por sujetos de lengua alemana que hacían cierto uso de ella: que la lastimaban, la mataban, le daban muerte porque la hacían hablar de tal o cual modo. La experiencia del nazismo es un crimen contra la lengua alemana. Lo que se dijo en alemán bajo el nazismo, eso mismo, es una muerte. Hay otra muerte que es la simple banalización, la trivialización de la lengua. Y luego hay otra muerte que es aquella que no puede advenir a la lengua sino a causa de lo que ella es, es decir: repetición, aletargamiento, mecanización, etc. El acto poético constituye, por lo tanto, una suerte de resurreción: el poeta es alguien que tiene que tratar permanentemente con una lengua que se muere y que él resucita, no ofreciéndole un verso triunfante sino haciéndolo regresar a veces, como un resucitado o un fantasma: él despierta la lengua y para tener verdaderamente en carne viva la experiencia del despertar, del retorno a la vida de la lengua, debe encontrarse muy cerca de su cadáver. Debe estar lo más cerca posible de sus restos, de sus despojos. No quisiera ceder aquí al pathos, pero supongo que Celan tenía constantemente que tratar con una lengua que corría el riesgo de convertirse en una lengua muerta. El poeta es alguien que se da cuenta de que la lengua, su lengua, la que heredó en el sentido que acabo de decir, corre el riesgo de convertirse en una lengua muerta y, por lo tanto, que tiene la muy grave responsabilidad de despertarla, de resucitarla (no en el sentido de la gloria cristiana, sino en el sentido de la resurrección de la lengua), ni como un cuerpo inmortal ni como un cuerpo glorioso, sino como un cuerpo mortal, frágil, algunas veces indescifrable como lo es cada poema de Celan. Cada poema es una resurrección, pero que nos impulsa hacia un cuerpo vulnerable que puede ser de nuevo olvidado. Creo que todos los poemas de Celan permanecen de alguna manera indescifrables, conservan lo indescifrable, y esto puede también apelar interminablemente a una suerte de reinterpretación, de resurrección, a nuevos soplos de interpretación, o bien al contrario, perecer, desaparecer de nuevo. Nada asegura a un poema contra su muerte, ya porque el archivo puede siempre ser quemado en hornos crematorios o en incendios, ya porque, sin ser quemado, sea simplemente olvidado, o no interpretado, o aletargado. Es siempre posible el olvido.

Traducción: Ricardo Ibarlucía

MST e formação

Entrevista de Paulo Arantes - O MST recriou a escola (2008).

O contemporâneo colapso do desenvolvimento precipitou o longo processo de sucateamento e confinamento da vida acadêmica ao salve-se quem puder da administração da escassez. Como as demais instituições do welfare periférico, a USP foi alvo de todos os ajustes e reengenharias que se sabe. Fragmentou-se num arquipélago de institutos e fundações de apoio, povoados por estudantes-usuários e pesquisadores-investidores (no seu próprio capital humano). Como no mundo do trabalho, corroeu-se igualmente o caráter, na acepção sociológica que lhe deu Richard Sennet. Não estou moralizando, simplesmente notando que a idéia de carreira, sem carreirismo, deixou de fazer sentido. O ato docente, fundado numa vida dedicada à pesquisa, do berço acadêmico à vida ativa depois de uma aposentadoria digna, caiu no vazio institucional que se instalava. Sem o docente formador que inspira e enriquece os alunos – muito menos que o seu currículo, para o qual de fato passou a trabalhar como um condenado – não se pode mais falar da universidade como uma escola. Ponto final.
O MST nasceu naquele exato momento, só que dobrou tal esquina da nossa história recente no sentido contrário, politizando o mais extremo desvalimento. Sem terra, e tudo o mais que se refere aos mínimos de uma vida civilizada, foi reinventando um novo sujeito, que acabou recriando também a Escola. Assim, com maiúscula, pois sua crença - que eu chamaria de socialista - no poder da instrução na transformação do povo trabalhador, levou-o a instituir praticamente do nada, um dos raros ambientes que ainda podemos chamar de “formadores” em nosso País e na América Latina. Formador ou humanizador, como se queira.
É preciso lembrar que no centro do MST está o problema da produção. De alimentos, para ser mais específico nesta hora de crise alimentar global. Refiro-me, portanto, à preservação e ampliação de um ambiente humanizador, conjugado ao meio hostil do trabalho penoso e acossado por toda sorte de coerções. Da violência proprietária ao descaso dos poderes constituídos, desde sempre para facilitar a esfola costumeira dos primeiros. Falo do trabalhador que se instrui e cultiva enquanto agente de sua própria emancipação, que se humaniza e forma, escapando da condição de máquina de produzir mais valia neste grande moinho de gastar gente, como Darcy Ribeiro definiu o Brasil. (Paulo Arantes)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Para Pensar o Brasil - Paulo Freire


Paulo Freire (1921-1997)
Pedagogia do oprimido (1970)


Biblioteca Digital Paulo Freire - disponibiliza obras de Freire, incluindo Pedagogia do Oprimido.
Centro Paulo Freire

Carta de Paulo Freire aos professores.

Informações bio-bibliográficas sobre Freire no Projeto Memória.

terça-feira, 17 de março de 2009

Paul Celan - outros poemas


Mais poemas de Paul Celan lidos por ele mesmo (arquivos de áudio, em alemão, fonte Lyrikline).

Lyrikline é um site que hospeda poemas escritos e lidos por poetas contemporâneos das mais diversas nacionalidades. Cada poema tem traduções para outras línguas, sendo as línguas "padrão" o inglês e o alemão além da orginal.

Kautsky - Ultra-imperialismo

Artigo de Karl Kautsky - Ultra-imperialism (1914), em inglês.

O estado de guerra permanente que se confunde hoje com o mundo do capitalismo vencedor não vai mais desaguar numa guerra interimperialista entre formas rivais de acumulação como nos conflitos passados em torno da hegemonia mundial. Não ignoro que o que estou dizendo é contra-intuitivo: estão aí o cisma do Ocidente ante a guerra do Iraque; o cerco geopolítico da Rússia e da China pelos EUA; a retomada do Grande Jogo na Ásia Central; o dinheiro mundial, o dólar americano, desafiado etc. Se for para raciocinar em termos clássicos, fico com o ultraimperialismo de Kautsky, com a diferença que o governo do mundo pelos monopólios coordenados estaria encarnado no necessário poder desproporcional de um só país, que portanto atuaria privadamente na gestão do capitalismo global, inclusive como estado rentista e ultraviolento, para continuarmos no reino dos superlativos, do excessivo. (Paulo Arantes, Entrevista, 2004)

segunda-feira, 16 de março de 2009

The Fruits of time

Palestra de Perry Anderson no Holberg Prize symposium 2008 - Fredric Jameson: The Fruits of time.


domingo, 15 de março de 2009

Revolutionary Nostalgia

Palestra de Michael Löwy no Holberg Prize Symposium 2008 - Fredric Jameson as Kulturkritiker (Revolutionary Nostalgia: The Romantic Anti-Capitalist Moment in Fredric Jameson's Cultural Criticism).


sábado, 14 de março de 2009

Does World Literature Have a Foreign Office?

Palestra de Fredric Jameson no Holberg Prize symposium (2008).



Outra leitura da mesma palestra, na Universidade de Duke: World Literature.

sexta-feira, 13 de março de 2009

O Romantismo no Brasil




Antonio Candido - O Romantismo no Brasil (2002) [4shared]

quinta-feira, 12 de março de 2009

quarta-feira, 11 de março de 2009

Ibsen


Texto de Franco Moretti, a ser publicado na New Left Review: Bourgeoisie. On Henrik Ibsen (em pdf).

Duas peças de Ibsen, traduzidas para o inglês por Eleanor Marx:

terça-feira, 10 de março de 2009

A Arte de Viver para as Novas Gerações


Livro de Raoul Vaneigem, na íntegra:

No orignal francês: Traité de savoir-vivre à l'usage des jeunes générations (1967).

Ou na tradução em inglês: The revolution of everyday life (1967).

Ao lado de Guy Debord, Raoul Vaneigem é o principal teórico do Situacionismo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Mudar o mundo sem tomar o poder

Textos de John Holloway:

Twelve Theses on Changing the World without taking Power (libcom.org)

Change the world without taking power (libcom.org)

Cambiar el mundo sin tomar el poder - Prologo à edição em espanhol e Capítulo I – El Grito.

Discussão:

Michael Löwy - Resenha de Mudar o mundo sem tomar o poder (Crítica Marxista, 2005). [em pdf]
Michael Löwy - About Change the world without taking power (Herramienta).

John Holloway - Reply to Michael Löwy (Herramienta).

Daniel Bensaïd - A propos d’un récent livre de John Holloway (Herramienta).
Daniel Bensaïd - Acerca de un libro reciente de John Holloway (Herramienta).
Daniel Bensaïd - On a Recent Book by John Holloway (International Viewpoint).

domingo, 8 de março de 2009

Complexo, moderno, nacional e negativo

Roberto Schwarz - Complexo, moderno, nacional e negativo (Novos estudos, 1981). [4shared]

Sobre Schwarz:

Sandra Guardini Vasconcelos - Um leitor radical de Machado (2008). [doc]

Maria Elisa Cevasco - Cultural theory at the Center and in the Periphery. [pdf]

Bernardo Ricupero - Da formação à forma: ainda as "idéias fora do lugar" (Lua Nova, 2008); também em pdf.

sábado, 7 de março de 2009

Revistas (2)

Mais revistas:

Actuel Marx (em francês).

Herramienta (em espanhol). Traz seção especial sobre "Gyorgy Lukács: Pensamiento Vivido".

Revistas (1)

Revistas (em inglês):

New Left Review - revista britânica (bimestral) fundada em 1960. Publicou artigos de Stuart Hall (seu primeiro editor), Raymond Williams, E.P. Thompson, Perry Anderson; divulgou textos de Lukács, Walter Benjamin, Adorno; publicou artigos e entrevistas de Sartre, Althusser, Poulantzas, Enzensberger; recebe colaboração de Göran Therborn, Tariq Ali, Mike Davis, David Harvey, Immanuel Wallerstein, Giovanni Arrighi, Terry Eagleton, Francis Mulhern, Fredric Jameson. Em 1970, o grupo fundou a editora New Left Books, posteriormente rebatizada Verso Books. [O site disponibiliza, para acesso gratuito, dois ou três artigos de cada número, a partir de 2000.]

Monthly Review - revista norte-americana (mensal), fundada em 1949 por Paul Sweezy. Teve como editores, além de Sweezy, Harry Magdoff, Ellen Meiksins Wood e, atualmente, John Bellamy Foster.

Socialist Register - publicação britânica (anual), fundada em 1964 por Ralph Miliband e John Saville.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Música e verdade

Entrevista de Jorge de Almeida sobre o livro Crítica dialética em Theodor Adorno - Música sem enfeites (Trópico, 2008).

quinta-feira, 5 de março de 2009

El Lissitzky


Site com obras de El Lissitzky: Monuments of the Future (em inglês).


Algumas obras de El Lissitzky (ibiblio.org).




quarta-feira, 4 de março de 2009

Poetas Russos


Poemas de Maiakóvski (Revista USP, 1993); em pdf.


Poemas de vários poetas russos [Maiakóvski, Khlébnikov e outros], (Estudos Avançados, 1998); também em pdf.

terça-feira, 3 de março de 2009

Diderot - O Sobrinho de Rameau


Diderot - Le neveu de Rameau (1762) e outros textos (em francês), no site ABU.

Hegel foi um dos primeiros a reconhecer os méritos literários, intelectuais e sociais de "O sobrinho de Rameau". Não será por acaso que o diálogo de Diderot é a única obra moderna citada na Fenomenologia do Espírito. O que é particularmente importante no texto de Diderot é que a dialética não é produto de considerações filosóficas abstratas, mas surge dos problemas morais efetivos do tempo. Assim, comprova a fundamentação de Hegel de que, enquanto aquisição da consciência subjetiva, a dialética é também produto da consciência social, e não apenas resultado do filosofar abstrato. (G. Lukács [adaptado de Der junge Hegel])

L'Encyclopédie de Diderot et d'Alembert.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Adorno - Fragmento sobre música e linguagem


Theodor W. Adorno - Fragmento sobre música e linguagem (Trans/from/ação, 2008); também em pdf.

domingo, 1 de março de 2009

Entrevista com Paulo Arantes

Entrevista de Paulo Arantes à revista Trans/form/ação (2008); também em pdf.


De fato, as bases técnicas para a superação da pré-história da humanidade estão finalmente dadas, e, no entanto, esse limiar emancipatório brilha sob a luz negra de um atoleiro sem fim, o vasto aterro sanitário de homens e mulheres a um tempo descartados e "recapturados" por motivo de irrelevância econômica. Esse buraco de agulha para elefantes é a contradição terminal do nosso tempo: o reino da liberdade está enfim à vista e todavia iremos todos morrer na praia da mais crassa necessidade material, como se ainda engatinhássemos nos tempos da pedra lascada. A contradição deste último capítulo que não acaba de acabar - a liberação possível do fardo da exploração como condição do progresso tornou-se a rigor uma verdadeira expulsão, por assim dizer, na boca do guichê -, foi no entanto identificada por Marx desde a origem: a compulsão do capital a eliminar do processo de valorização econômica a fonte mesma de todo o valor, o trabalho vivo. Por paradoxal que possa parecer, o capital foge do trabalho (como relembrou recentemente John Holloway), que por seu turno também fugiria do capital se tivesse para onde ir, o que não é mais o caso, por motivo de expropriação originária e continuada. Como o seu fim é ele mesmo, acrescido de um mais valor, a produção material lhe parece um desvio dispensável, um estorvo a ser eliminado. Sendo, no entanto, um mecanismo cego e inconsciente (estamos na pré-história) de sucção e rejeição simultâneas, precisa condicionar o acesso à riqueza criada à posse de um bilhete de ingresso cujo valor de face tende a zero, em virtude daquela mesma contradição em processo. Hoje essa fuga assimétrica está assumindo proporções destrutivas inéditas. A sociedade do trabalho se decompõe sob o comando do capital, quando poderia estar sendo superada com os meios que este mesmo capital agenciou ao longo de sua história cruenta. (Paulo Arantes)