domingo, 30 de novembro de 2008

Terry Eagleton


Ensaio de Terry Eagleton: Capitalismo, modernismo e pós-modernismo (Crítica Marxista, n. 2, 1995), com introdução de Iná Camargo Costa e Maria Elisa Cevasco. Em pdf.

Em inglês:

Jameson - Entrevista

Entrevista de Fredric Jameson (2008):




Jameson recebeu em 2008 o Prêmio Holberg (Noruega), no valor de 750 mil dólares. Em 1964, Sartre (aliás objeto do doutorado de Jameson, orientado por Auerbach), recusou o Prêmio Nobel, dizendo que o escritor não deveria deixar-se transformar em uma instituição. Não se trata de lembrar esse fato para reprovar Jameson, mas para notar a situação atual dos intelectuais: repetir hoje o gesto de Sartre simplesmente não faria sentido.

Fredric Jameson


Ensaio de Fredric Jameson: Reificação e utopia na cultura de massa (Crítica Marxista, n. 1, 1994). Em pdf.

Em inglês:

Entrevista:

Em francês:

Bibliografia de Jameson em inglês.

sábado, 29 de novembro de 2008

Estado de sítio


Trecho de entrevista de Paulo Eduardo Arantes: Filosofia em estado de sítio (Cult, n. 118, 2007).

Entrevista de Arantes à Agência Carta Maior, sobre Extinção (2007).

Entrevista de Arantes ao Instituto Humanitas Unisinos (2007).

Entrevista de Arantes sobre teatro (Estado, 2007).




Schwarz sobre Paulo Emílio


Roberto Schwarz revisita Três Mulheres de Três PPPês, de Paulo Emílio Salles Gomes, trinta anos depois: Forma excêntrica de luta de classes (Piauí, n. 10, julho de 2007).

Trecho de Cemitério de Paulo Emílio.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ernest Mandel


Escritos de Ernest Mandel em inglês, incluindo estudo sobre Karl Marx: Ernest Mandel Archive (International Viewpoint).

Textos de Mandel (várias linguas): Ernest Mandel Internet Archive.
Alguns textos de Mandel em português.

Informações sobre Mandel no site trotskyana.net.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Surrealismo


Por uma Arte Revolucionária Independente - Diego Rivera, André Breton, Leon Trotsky: em português ou em inglês.


Breton: Manifesto do Surrealismo (1924).
Breton: What Is Surrealism? (1934).

Sobre Nadja, de Breton (em francês).

Um artigo: André Breton e os problemas da cultura no século XX, parte 1 e parte 2.


Vídeo com imagens de Trotsky com Diego Rivera e Frida Kahlo:



quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Trotsky - Literatura e Revolução


Literatura e Revolução e outros escritos de Trotsky (em inglês): Literature and Art.

Texto de Trotsky sobre os intelectuais: The Intelligentsia and Socialism (1910).

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Lênin - Sobre Arte e Literatura


Escritos de Lênin sobre Arte e Literatura (em inglês): On Art and Literature.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Marx & Engels - Sobre Literatura e Arte


Seleção de trechos da obra de Marx e Engels sobre literatura e arte (em inglês): Marx and Engles On Literature and Art. (Reproduz a edição publicada pela Progress Publishers.)

Uma boa antologia de escritos de Marx e Engels sobre literatura e arte (em inglês) é a seleção de Lee Baxandall e Stefan Morawski: On Literature and Art (Ver o Prefácio).

domingo, 23 de novembro de 2008

An die Nachgeborenen

Bertolt Brecht lendo "An die Nachgeborenen":




Um arquivo de áudio pode ser baixado aqui.


An die Nachgeborenen
Bertolt Brecht

I
Wirklich, ich lebe in finsteren Zeiten!
Das arglose Wort ist töricht. Eine glatte Stirn
Deutet auf Unempfindlichkeit hin. Der Lachende
Hat die furchtbare Nachricht
Nur noch nicht empfangen.

Was sind das für Zeiten, wo
Ein Gespräch über Bäume fast ein Verbrechen ist
Weil es ein Schweigen über so viele Untaten einschließt!
Der dort ruhig über die Straße geht
Ist wohl nicht mehr erreichbar für seine Freunde
Die in Not sind?

Es ist wahr: Ich verdiene nur noch meinen Unterhalt
Aber glaubt mir: das ist nur ein Zufall. Nichts
Von dem, was ich tue, berechtigt mich dazu, mich sattzuessen.
Zufällig bin ich verschont. (Wenn mein Glück aussetzt, bin ich verloren.)

Man sagt mir: Iss und trink du! Sei froh, dass du hast!
Aber wie kann ich essen und trinken, wenn
Ich dem Hungernden entreiße, was ich esse, und
Mein Glas Wasser einem Verdursteten fehlt?
Und doch esse und trinke ich.

Ich wäre gerne auch weise.
In den alten Büchern steht, was weise ist:
Sich aus dem Streit der Welt halten und die kurze Zeit
Ohne Furcht verbringen
Auch ohne Gewalt auskommen
Böses mit Gutem vergelten
Seine Wünsche nicht erfüllen, sondern vergessen
Gilt für weise.
Alles das kann ich nicht:
Wirklich, ich lebe in finsteren Zeiten!

II

In die Städte kam ich zur Zeit der Unordnung
Als da Hunger herrschte.
Unter die Menschen kam ich zu der Zeit des Aufruhrs
Und ich empörte mich mit ihnen.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

Mein Essen aß ich zwischen den Schlachten
Schlafen legte ich mich unter die Mörder
Der Liebe pflegte ich achtlos
Und die Natur sah ich ohne Geduld.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

Die Straßen führten in den Sumpf zu meiner Zeit.
Die Sprache verriet mich dem Schlächter.
Ich vermochte nur wenig. Aber die Herrschenden
Saßen ohne mich sicherer, das hoffte ich.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

Die Kräfte waren gering. Das Ziel
Lag in großer Ferne
Es war deutlich sichtbar, wenn auch für mich
Kaum zu erreichen.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

III

Ihr, die ihr auftauchen werdet aus der Flut
In der wir untergegangen sind
Gedenkt
Wenn ihr von unseren Schwächen sprecht
Auch der finsteren Zeit
Der ihr entronnen seid.

Gingen wir doch, öfter als die Schuhe die Länder wechselnd
Durch die Kriege der Klassen, verzweifelt
Wenn da nur Unrecht war und keine Empörung.

Dabei wissen wir doch:
Auch der Hass gegen die Niedrigkeit
Verzerrt die Züge.
Auch der Zorn über das Unrecht
Macht die Stimme heiser. Ach, wir
Die wir den Boden bereiten wollten für Freundlichkeit
Konnten selber nicht freundlich sein.

Ihr aber, wenn es soweit sein wird
Dass der Mensch dem Menschen ein Helfer ist
Gedenkt unsrer
Mit Nachsicht.

Fonte: http://users.skynet.be/lit/brecht.htm



À POSTERIDADE

I
Não há dúvida que vivo numa idade escura!
Uma palavra sem malícia é um absurdo. Uma fronte suave
Revela um coração duro. Aquele que está rindo
Ainda não escutou
As terríveis notícias.

Ah, que tempo é este
Em que falar de árvores é quase um crime
Por ser de certo modo silenciar sobre injustiças!
E aquele que tranqüilamente atravessa a rua
Não está fora do alcance de seus amigos
Em perigo?

É verdade: ganho minha vida
Mas, palavra de honra, é só por acidente.
Nada que eu faço me dá direito a meu pão.
Por acaso fui poupado: se minha sorte me abandona
Estou perdido.

Há quem me diga: come e bebe. Dá-te por satisfeito
Mas como é que posso comer e beber
Se meu pão foi arrebatado aos famintos
E meu copo d'água pertence aos sedentos?
E mesmo assim como e bebo.

Gostaria de ser sábio.
Os livros antigos nos informam o que é sabedoria:
Evita os embates do mundo, vive tua curta vida
Sem temer ninguém
Sem recorrer à violência
Pagando o mal com o bem -
Não a satisfação do desejo mas o alheamento
Passa por sabedoria.
Eu não posso fazer nada disso:
Não há dúvida que vivo numa idade escura!

II
Cheguei às cidades num tempo de desordem
Quando a fome imperava.
Cheguei entre os homens num tempo de levante
E com eles revoltei-me.
E assim passou-se o tempo
Que me foi dado sobre a terra.

Comi meu pão entre massacres.
A sombra do assassínio pairou sobre meu sono
E nas vezes que amei, amei com indiferença.
Considerei minha natureza com impaciência.
E assim passou-se o tempo
Que me foi dado sobre a terra.

No meu tempo as ruas conduziam à fama gulosa
O que eu dizia me atraiçoava ao carrasco.
Pouca coisa podia fazer. Porém sem mim
Os dominantes ter-se-iam sentido mais seguros.
Pelo menos era essa a minha esperança.
E assim passou-se o tempo
Que me foi dado sobre a terra.

Pequena era a força dos homens. O objetivo
Ficava muito longe.
Fácil de ver, embora para mim
Quase inatingível.
E assim passou-se o tempo
Que me foi dado sobre a terra.

III
Vós que emergireis deste dilúvio
Em que nos afundamos
Pensai -
Quando falardes em nossas fraquezas -
Também na idade escura
Que lhes deu origem.
Pois assim passamos, mudando de país como de sapatos
Na luta de classes, desesperando
Quando só havia injustiça e nenhuma resistência.

Pois sabíamos até bem demais
O próprio ódio da imundície
Faz a fronte ficar severa.
A própria raiva contra a injustiça
Faz a voz ficar áspera. Ai de nós, nós que
Queríamos lançar as bases da bondade
Não pudemos nós mesmos ser bondosos

Mas vós, quando afinal acontecer
Que o homem possa ajudar seu próximo
Não nos julgueis
Com muita severidade...

(Tradução de Mário Faustino)


Corre na internet uma tradução incompleta do poema, sob o título "Aos que virão depois de nós". Manuel Bandeira fez uma versão (inexata) sob o título "Aos que vierem depois de nós".


Konder sobre Brecht


Ensaio de Leandro Konder sobre Brecht: A Poesia de Brecht e a História (em pdf).

sábado, 22 de novembro de 2008

Rimbaud - Le Bateau Ivre


"[Brecht] acha que Marx e Engels, se tivessem lido "Le Bateau ivre", teriam percebido nele o grande movimento histórico de que é a expressão. Teriam reconhecido claramente que aquilo que o poema descreve não é um poeta excêntrico a perambular, mas a fuga de um homem que não mais pode viver dentro das barreiras de uma classe que – com a Guerra da Criméia, com a aventura no México – estava então começando a abrir até mesmo os mais exóticos países aos interesses mercantis." (Walter Benjamin, "Conversas com Brecht", citado por Kristin Ross, The Emergence of Social Space: Rimbaud and the Paris Commune.)


Le bateau ivre

Arthur Rimbaud

Comme je descendais des Fleuves impassibles,
Je ne me sentis plus guidé par les haleurs :
Des Peaux-Rouges criards les avaient pris pour cibles,
Les ayant cloués nus aux poteaux de couleurs.

J'étais insoucieux de tous les équipages,
Porteur de blés flamands ou de cotons anglais.
Quand avec mes haleurs ont fini ces tapages,
Les Fleuves m'ont laissé descendre où je voulais.

Dans les clapotements furieux des marées,
Moi, l'autre hiver, plus sourd que les cerveaux d'enfants,
Je courus ! Et les Péninsules démarrées
N'ont pas subi tohu-bohus plus triomphants.

La tempête a béni mes éveils maritimes.
Plus léger qu'un bouchon j'ai dansé sur les flots
Qu'on appelle rouleurs éternels de victimes,
Dix nuits, sans regretter l'oeil niais des falots !

Plus douce qu'aux enfants la chair des pommes sures,
L'eau verte pénétra ma coque de sapin
Et des taches de vins bleus et des vomissures
Me lava, dispersant gouvernail et grappin.

Et dès lors, je me suis baigné dans le Poème
De la Mer, infusé d'astres, et lactescent,
Dévorant les azurs verts ; où, flottaison blême
Et ravie, un noyé pensif parfois descend ;

Où, teignant tout à coup les bleuités, délires
Et rythmes lents sous les rutilements du jour,
Plus fortes que l'alcool, plus vastes que nos lyres,
Fermentent les rousseurs amères de l'amour !

Je sais les cieux crevant en éclairs, et les trombes
Et les ressacs et les courants : je sais le soir,
L'Aube exaltée ainsi qu'un peuple de colombes,
Et j'ai vu quelquefois ce que l'homme a cru voir !

J'ai vu le soleil bas, taché d'horreurs mystiques,
Illuminant de longs figements violets,
Pareils à des acteurs de drames très antiques
Les flots roulant au loin leurs frissons de volets !

J'ai rêvé la nuit verte aux neiges éblouies,
Baiser montant aux yeux des mers avec lenteurs,
La circulation des sèves inouïes,
Et l'éveil jaune et bleu des phosphores chanteurs !

J'ai suivi, des mois pleins, pareille aux vacheries
Hystériques, la houle à l'assaut des récifs,
Sans songer que les pieds lumineux des Maries
Pussent forcer le mufle aux Océans poussifs !

J'ai heurté, savez-vous, d'incroyables Florides
Mêlant aux fleurs des yeux de panthères à peaux
D'hommes ! Des arcs-en-ciel tendus comme des brides
Sous l'horizon des mers, à de glauques troupeaux !

J'ai vu fermenter les marais énormes, nasses
Où pourrit dans les joncs tout un Léviathan !
Des écroulements d'eaux au milieu des bonaces,
Et des lointains vers les gouffres cataractant !

Glaciers, soleils d'argent, flots nacreux, cieux de braises !
Echouages hideux au fond des golfes bruns
Où les serpents géants dévorés des punaises
Choient, des arbres tordus, avec de noirs parfums !

J'aurais voulu montrer aux enfants ces dorades
Du flot bleu, ces poissons d'or, ces poissons chantants.
- Des écumes de fleurs ont bercé mes dérades
Et d'ineffables vents m'ont ailé par instants.

Parfois, martyr lassé des pôles et des zones,
La mer dont le sanglot faisait mon roulis doux
Montait vers moi ses fleurs d'ombre aux ventouses jaunes
Et je restais, ainsi qu'une femme à genoux...

Presque île, ballottant sur mes bords les querelles
Et les fientes d'oiseaux clabaudeurs aux yeux blonds.
Et je voguais, lorsqu'à travers mes liens frêles
Des noyés descendaient dormir, à reculons !

Or moi, bateau perdu sous les cheveux des anses,
Jeté par l'ouragan dans l'éther sans oiseau,
Moi dont les Monitors et les voiliers des Hanses
N'auraient pas repêché la carcasse ivre d'eau ;

Libre, fumant, monté de brumes violettes,
Moi qui trouais le ciel rougeoyant comme un mur
Qui porte, confiture exquise aux bons poètes,
Des lichens de soleil et des morves d'azur ;

Qui courais, taché de lunules électriques,
Planche folle, escorté des hippocampes noirs,
Quand les juillets faisaient crouler à coups de triques
Les cieux ultramarins aux ardents entonnoirs ;

Moi qui tremblais, sentant geindre à cinquante lieues
Le rut des Béhémots et les Maelstroms épais,
Fileur éternel des immobilités bleues,
Je regrette l'Europe aux anciens parapets !

J'ai vu des archipels sidéraux ! et des îles
Dont les cieux délirants sont ouverts au vogueur :
- Est-ce en ces nuits sans fonds que tu dors et t'exiles,
Million d'oiseaux d'or, ô future Vigueur ?

Mais, vrai, j'ai trop pleuré ! Les Aubes sont navrantes.
Toute lune est atroce et tout soleil amer :
L'âcre amour m'a gonflé de torpeurs enivrantes.
O que ma quille éclate ! O que j'aille à la mer !

Si je désire une eau d'Europe, c'est la flache
Noire et froide où vers le crépuscule embaumé
Un enfant accroupi plein de tristesse, lâche
Un bateau frêle comme un papillon de mai.

Je ne puis plus, baigné de vos langueurs, ô lames,
Enlever leur sillage aux porteurs de cotons,
Ni traverser l'orgueil des drapeaux et des flammes,
Ni nager sous les yeux horribles des pontons.



O barco ébrio

O vento abençoou minhas manhãs marítimas.
Mais leve que uma rolha eu dancei nos lençóis
Das ondas a rolar atrás de suas vítimas,
Dez noites, sem pensar nos olhos dos faróis!

Mais doce que as maçãs parecem aos pequenos,
A água verde infiltrou-se no meu casco ao léu
E das manchas azulejantes dos venenos
E vinhos me lavou, livre de leme e arpéu.

Então eu mergulhei nas águas do poema
Do Mar, sarcófago de estrelas, latescente,
Devorando os azuis, onde às vezes - dilema
Lívido - um afogado afunda lentamente;

Onde, tingindo azulidades com quebrantos
E ritmos lentos sob o rutilante albor,
Mais fortes que o álcool, mais vastas que os nossos prantos,
Fermentam de amargura as rubéolas do amor!

Conheço os céus crivados de clarões, as trombas,
Ressacas e marés: conheço o entardecer,
A aurora em explosão como um bando de pombas,
E algumas vezes vi o que o homem quis ver!

Eu vi o sol baixar, sujo de horrores místicos,
Iluminando os longos túmulos glaciais;
Com actrizes senis em palcos cabalísticos,
Ondas rolando ao longe os frémitos de umbrais!

Sonhei que a noite verde em neves alvacentas
Beijava, lenta, o olhar dos mares com mil coros,
Soube a circulação das seivas suculentas
E o acordar louro e azul dos fósforos canoros!

Por meses eu segui, tropel de vacarias
Histéricas, o mar violentando as areias,
Sem esperar que aos pés de ouro das Marias
Esmorecesse o ardor dos Oceanos sem peias.

Cheguei a visitar as Flóridas perdidas
Com olhos de jaguar florindo em epidermes
De homens! Arco-íris tensos como bridas
No horizonte do mar de glaucos paquidermes.

Vi fermentarem pântanos imensos, ansas
Onde apodrecem Liviatãs distantes!
O desmoronamento da água nas bonanças
E abismos a abrirem-se no caos, cataratantes!

Glaciares, sóis de prata, ondas e céus cadentes!
Naufrágios abissais na tumba dos negrumes,
Onde, pasto de insectos, tombam as serpentes
Dos curvos cipoais, com pérfidos perfumes!

Ah! Se as crianças vissem o dourar das ondas,
Áureos peixes do mar azul, peixes cantantes...
- Espumas em flor ninaram minhas rondas
E as brisas da ilusão me alaram por instantes.

Mártir de pólos e de zonas misteriosas,
O mar a soluçar cobria os meus artelhos
Com flores fantasmais de pálidas ventosas
E eu, como uma mulher, me punha de joelhos...

Quase ilha a balouçar entre borras e brados
De gralhas tagarelas com olhar de gelo,
Eu vogava, e por minha rede os afogados
Passavam, a dormir, descendo a contrapelo.

Mas eu, barco perdido em baías e danças,
Lançado no ar sem pássaros pela torrente,
De quem os Monitores e os arpões das Hansas
Não teriam pescado o casco de água ardente;

Livre, fumando em meio às virações inquietas,
Eu que furava o céu violáceo como um muro
Que mancham, acepipe raro aos bons poetas,
Líquens de sol e vómitos de azul escuro;

Prancha louca a correr em lúnulas e faíscas
E hipocampos de breu, numa escolta de espuma,
Quando os sóis estivais estilhaçavam em riscas
O céu ultramarino e seus funis de bruma;

Eu que tremia ouvindo, ao longe a estertorar,
O cio dos Behemóts e dos Maeltroms febris,
Fiandeiro sem fim dos marasmos do mar,
Anseio pela Europa e os velhos peitoris!

Eu vi os arquipélagos astrais! e as ilhas
Que o delírio dos céus desvela ao viajor;
- É nas noites sem cor que te esqueces e te ilhas,
Milhão de aves de ouro, ó futuro Vigor?

Sim, chorar eu chorei! São mornas as Auroras!
Toda lua é cruel e todo sol, engano:
O amargo amor opiou de ócios minhas horas.
Ah! que esta quilha rompa! Ah! que me engula o oceano!

Da Europa a água que eu quero é só o charco
Negro e gelado onde, ao crepúsculo violeta,
Um menino tristonho arremesse o seu barco
Trémulo como a asa de uma borboleta.

No meu torpor, não posso, ó vagas, as esteiras
Ultrapassar das naves cheias de algodões,
Nem vencer a altivez das velas e bandeiras,
Nem navegar sob o olho torvo dos pontões.

(Tradução de Augusto de Campos
)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Comuna de Paris - 1871


Karl Marx: A guerra civil em França (em inglês).

História e documentos da Comuna de Paris (em inglês).

História da Comuna em imagens (em inglês) – artigo e reprodução de um panfleto dos anos 1930.

Rimbaud


"C'est faux de dire : Je pense : on devrait dire : On me pense. [...] Je est un autre." (Arthur Rimbaud, Carta a Georges Izambard, 13 de maio de 1871, dita "Lettre du voyant".)

"Ele pensava dentro de outras cabeças; e na sua, outros, além dele, pensavam. Este é o verdadeiro pensamento." (Bertolt Brecht, citado por José Antonio Pasta Jr., Trabalho de Brecht.)

Obras completas de Rimbaud em francês: Oeuvres Complètes.

Une Saison en Enfer (transcrição fiel à edição original de 1873)

Les Illuminations (transcrição fiel à edição original de 1886)


Chant de guerre parisien
Arthur Rimbaud

Le Printemps est évident, car
Du coeur des Propriétés vertes,
Le vol de Thiers et de Picard
Tient ses splendeurs grandes ouvertes !

O Mai ! quels délirants culs-nus !
Sèvres, Meudon, Bagneux, Asnières,
Ecoutez donc les bienvenus
Semer les choses printanières !

Ils ont schako, sabre et tam-tam,
Non la vieille boîte à bougies,
Et des yoles qui n'ont jam, jam...
Fendent le lac aux eaux rougies !

Plus que jamais nous bambochons
Quand arrivent sur nos tanières
Crouler les jaunes cabochons
Dans des aubes particulières !

Thiers et Picard sont des Eros,
Des enleveurs d'héliotropes ;
Au pétrole ils font des Corots :
Voici hannetonner leur tropes...

Ils sont familiers du Grand Truc !...
Et couché dans les glaïeuls, Favre
Fait sont cillement aqueduc,
Et ses reniflements à poivre !

La grand'ville a le pavé chaud
Malgré vos douches de pétrole,
Et décidément, il nous faut
Vous secouer dans votre rôle...

Et les Ruraux qui se prélassent
Dans de longs accroupissements,
Entendront des rameaux qui cassent
Parmi les rouges froissements !

(15 mai 1871)

Algumas explicações (em francês) sobre as referências do "Chant de guerre parisien" e sua relação com a Comuna de Paris.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ohio Impromptu


Ohio Impromptu, peça curta de Samuel Beckett, escrita em 1980 - aqui em versão para TV, realizada em 2000, com direção de Charles Sturridge e atuação de Jeremy Irons (Vídeo legendado em português):


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Beckett


Obras de Samuel Beckett (em inglês), incluindo Fim de Jogo – e uma miríade de links.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Agitprop Train

Filme encontrado por acaso no youtube, com imagens de Lênin e de Maiakóvski:


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A senhorita e o arruaceiro

Барышня и Хулиган [Baryshnya i khuligan] (1918), filme de Maiakóvski (roteiro, direção e papel principal).

Parte 1


Parte 2


Parte 3


Parte 4


domingo, 16 de novembro de 2008

Rodchenko

Algumas obras de Aleksandr Rodchenko.

Владимир Маяковский


Poemas de Vladímir Maiakóvski em inglês, e o manifesto "Um tapa na cara do gosto público" (1917), assinado por David Burliuk, Alexander Kruchenykh, Vladimir Mayakovsky, Victor Khlebnikov.


Composição de El Lissitzky para Dlya golosa (Para voz), de Maiakóvski (1923).

Breve biografia de Maiakóvski, que participou da LEF (Frente de Esquerda para as Artes), junto com Ossip Brik, Nikolai Aseev, Sergei Tretyakov, Viktor Shklovsky, Aleksandr Rodchenko, Sergei Eisenstein, Vsevolod Meyerhold e Boris Pasternak.
"A nuvem de calças" (em inglês): A cloud in trousers.

Poemas de Maiakóvski, lidos por ele mesmo (arquivos de áudio).

sábado, 15 de novembro de 2008

1848 - Documentos


Alguns documentos sobre as jornadas de junho de 1848 (em inglês).

Escrevendo no calor da hora (A luta de classes em França), Marx viu praticamente tudo, mas errou o prognóstico em 1850: não haveria novo levante que revitalizasse a revolução - era apenas a França que se modernizava. Em compensação, dois anos mais tarde, após o golpe de Luís Bonaparte, Marx escreveu a insuperável análise do processo em O dezoito brumário.

Flaubert


Site de referência sobre Gustave Flaubert (em francês): Centre Flaubert (Université de Rouen).

Outro site sobre Flaubert (em francês).

Artigo de Baudelaire sobre Madame Bovary: Madame Bovary par Gustave Flaubert.

Artigo de Zola sobre Flaubert: Flaubert, écrivain.

Artigo de Proust sobre Flaubert: A propos du style de Flaubert.

Félicien Rops



Museu Félicien Rops.

Imagens de Rops no site Arterotismo.

Artigo (com imagens) sobre Les Sataniques, de Rops.

Abaixo: Gravura de Rops para o fronstispício de Les Épaves (1866), de Baudelaire.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Baudelaire - Les Fleurs du Mal


As Flores do Mal, de Charles Baudelaire, em diferentes edições. Em francês, com traduções para o inglês.

Obras de Baudelaire, em francês, incluindo críticas, ensaios (Os Paraísos Artificiais), diário (Meu coração desnudado), novela (La Fanfarlo), poemas em prosa (O Spleen de Paris) e, é claro, As Flores do Mal (nas edições de 1857 e 1861).

Le Cygne

À Victor Hugo

I

Andromaque, je pense à vous! Ce petit fleuve,
Pauvre et triste miroir où jadis resplendit
L'immense majesté de vos douleurs de veuve,
Ce Simoïs menteur qui par vos pleurs grandit,

A fécondé soudain ma mémoire fertile,
Comme je traversais le nouveau Carrousel.
Le vieux Paris n'est plus (la forme d'une ville
Change plus vite, hélas! que le coeur d'un mortel);

Je ne vois qu'en esprit tout ce camp de baraques,
Ces tas de chapiteaux ébauchés et de fûts,
Les herbes, les gros blocs verdis par l'eau des flaques,
Et, brillant aux carreaux, le bric-à-brac confus.

Là s'étalait jadis une ménagerie;
Là je vis, un matin, à l'heure où sous les cieux
Froids et clairs le Travail s'éveille, où la voirie
Pousse un sombre ouragan dans l'air silencieux,

Un cygne qui s'était évadé de sa cage,
Et, de ses pieds palmés frottant le pavé sec,
Sur le sol raboteux traînait son blanc plumage.
Près d'un ruisseau sans eau la bête ouvrant le bec

Baignait nerveusement ses ailes dans la poudre,
Et disait, le coeur plein de son beau lac natal:
«Eau, quand donc pleuvras-tu? quand tonneras-tu, foudre?»
Je vois ce malheureux, mythe étrange et fatal,

Vers le ciel quelquefois, comme l'homme d'Ovide,
Vers le ciel ironique et cruellement bleu,
Sur son cou convulsif tendant sa tête avide
Comme s'il adressait des reproches à Dieu!

II

Paris change! mais rien dans ma mélancolie
N'a bougé! palais neufs, échafaudages, blocs,
Vieux faubourgs, tout pour moi devient allégorie
Et mes chers souvenirs sont plus lourds que des rocs.

Aussi devant ce Louvre une image m'opprime:
Je pense à mon grand cygne, avec ses gestes fous,
Comme les exilés, ridicule et sublime
Et rongé d'un désir sans trêve! et puis à vous,

Andromaque, des bras d'un grand époux tombée,
Vil bétail, sous la main du superbe Pyrrhus,
Auprès d'un tombeau vide en extase courbée
Veuve d'Hector, hélas! et femme d'Hélénus!

Je pense à la négresse, amaigrie et phtisique
Piétinant dans la boue, et cherchant, l'oeil hagard,
Les cocotiers absents de la superbe Afrique
Derrière la muraille immense du brouillard;

À quiconque a perdu ce qui ne se retrouve
Jamais, jamais! à ceux qui s'abreuvent de pleurs
Et tètent la Douleur comme une bonne louve!
Aux maigres orphelins séchant comme des fleurs!

Ainsi dans la forêt où mon esprit s'exile
Un vieux Souvenir sonne à plein souffle du cor!
Je pense aux matelots oubliés dans une île,
Aux captifs, aux vaincus!... à bien d'autres encor!

Charles Baudelaire

Fonte: http://fleursdumal.org/poem/220

Dolf Oehler


Ensaio de Dolf Oehler sobre Baudelaire e Flaubert: Art-névrose.

Resenha de José Antonio Pasta Jr. sobre O Velho Mundo Desce aos Infernos : O arcanjo e a revolução (Folha, 1999).

Resenha de Modesto Carone sobre Quadros Parisienses: O poeta da sedição (Folha, 1997).

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"Quem seria capaz de decifrar historicamente aquela alegoria para turistas, de reconhecer que o arcanjo de espada em punho, nos ombros de Satanás, devia representar na época a vitória da ordem imperial e burguesa sobre a revolução, o triunfo do bem sobre o povo mau de junho de 1848?" (Dolf Oehler)

Fontaine - Place Saint Michel

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Enzensberger


Textos de e sobre Hans Magnus Enzensberger:

Entrevista de Enzensberger, em que fala sobre o Brasil: Depois da ordem e do progresso (Folha, 1999).

Resenha de Vinicius Dantas, sobre O Naufrágio do Titanic: De Titanic a Titanic (Jornal de Resenhas, 2000).

Artigo de Enzensberger: Paranóia da autodestrição (Folha, 2001).

Entrevista de Jörg Lau sobre Enzensberger e sua relação com Adorno: O esclarecimento do discípulo (Folha, 2003).

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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Peter Bürger

Entrevista de Peter Bürger, em que fala sobre Teoria da Vanguarda, Adorno, Roberto Schwarz (Estado, 1999).

Ensaio O Declínio da Era Moderna, em que Bürger discute idéias estéticas de Adorno.

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Mais Roberto Schwarz

"A mercantilização da cultura depois de certo ponto barra o exercício da reflexão crítica. O processo se completa quando os artistas também passam a se entender como funcionários do show, quando então deixa de haver o que criticar. [...] O marxismo é uma teoria crítica do processo de capitalização e de mercantilização das relações humanas. Esse processo hoje atingiu um predomínio e uma intensidade nunca vistos. Sob esse aspecto, o marxismo é mais atual agora que no tempo de seu nascimento e, apesar da maré contrária, é difícil achar uma perspectiva que rivalize com ele a sério." (Roberto Schwarz)

Duas entrevistas de Roberto Schwarz, a propósito de Seqüências Brasileiras:
Longo ensaio de Roberto Schwarz, sobre Francisco Alvim:
E mais três textos de Roberto Schwarz:

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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Entrevista de Paulo Arantes

"Não é de hoje a sensação de que o país anda em círculos, quando não se estafa e sacrifica uma geração inteira justamente para não retroceder. [...] O país está entrando em sua terceira década perdida, quase uma geração, e o melhor de nossa crítica, uma vez enunciado esse teorema crucial, por sua vez parece que passou a andar em círculo, mimetizando as obras comentadas." (Paulo Arantes)

Entrevista de Paulo Arantes: Fim de jogo (Folha, 2004), em pdf.
A versão completa da entrevista foi publicada no livro Extinção (Boitempo, 2007).

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domingo, 9 de novembro de 2008

Sociedade do Espetáculo


Guy Debord - La Société du Spectacle (1967), em francês.
Como lembrava Paulo Arantes outro dia, este livro clássico de Debord virou moda e passou a ser lido como se fosse uma teoria da mídia ou coisa que o valha, mas não é nada disso - é uma teoria da revolução.

Vários textos situacionistas (Guy Debord, Raoul Vaneigem e outros), em francês (no site nothingness.org).

David Harvey lê O Capital


David Harvey disponibilizou em seu site uma série de vídeos com seu curso sobre o primeiro volume de O Capital, de Marx: http://davidharvey.org/ (Arquivos de vídeo, em inglês).

Slavoj Žižek


Textos de Slavoj Žižek:

De História e consciência de classe a Dialética do esclarecimento, e volta (Lua Nova, 2003, no.59, p.159-175). Também em pdf.

Ensaios vários em inglês: lacan.com
Artigos em inglês: London Review of Books
Mais artigos em inglês: In These Times

Conjecturas de Franco Moretti


Dois ensaios de Franco Moretti (em inglês):

sábado, 8 de novembro de 2008

Acumulação literária

Entrevista de Roberto Schwarz:
Dois textos de Roberto Schwarz:

Anatol Rosenfeld

Anatol Rosenfeld conseguiu viver no Brasil como intelectual independente, fora da área institucional, em condições que hoje talvez não sejam mais possíveis. Rosenfeld sentia, disse certa vez Roberto Schwarz, que "fora da universidade ou dentro de grupos que se organizavam em função de um interesse vivo não-institucional, de alguma maneira a vida intelectual se poderia passar de maneira mais viva ou, se não mais viva, de maneira diferente daquela que ocorre nas universidades. [...] hoje, quando o ideal do intelectual muito freqüentemente é aparecer na televisão ou escrever na página três da Folha, não deixa de ser interessante esse sentimento para as possibilidades que os pequenos grupos e que a atuação discreta, mas ligada a desejos reais, podem abrir". (R. Schwarz, "O intelectual independente". In: Sobre Anatol Rosenfeld. Com-Arte, 1995.)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Introdução ao romance, por Terry Eagleton


Capítulo introdutório (em inglês) do livro The English Novel: an introduction (2004), de Terry Eagleton, disponível no site da editora Blackwell: What Is a Novel? (em pdf).

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O formador

"continuo acreditando na vitória de uma forma de socialismo adequada ao tempo" (Antonio Candido, 1992)

"assumi posições socialistas que não abandonei mais e continuam a nortear as minhas convicções relativas à necessidade de transformar profundamente a nossa sociedade desigual e mutiladora" (Antonio Candido, 2008)

Duas entrevistas de Antonio Candido:

Entrevista a José Pedro Renzi: Socialistas, Comunistas e Democracia no Pós-Guerra (Estudos de Sociologia, Araraquara, v.11, n.20, p.7-21, 2006) [pdf].

Folha, 2006: O formador (pdf). (Para baixar o arquivo, clicar no botão "Download Now"na próxima tela.)

Discurso de Antonio Candido ao receber o troféu Juca Pato em 20 de agosto de 2008: "Preservo convicções socialistas".