sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Walter Benjamin

À estetização da política, o comunismo responde com a politização da arte.

Ensaios de Walter Benjamin:
Artigo de Michael Löwy: A filosofia da história de Walter Benjamin (Estudos Avançados, maio/ago. 2002, vol.16, no.45, p.199-206). Também em pdf.

Kracauer


Artigo de Carlos Eduardo Jordão Machado sobre Siegfried Kracauer e Walter Benjamin: Notas sobre Siegfried Kracauer, Walter Benjamin e a Paris do Segundo Império. (História, 2006, vol.25, no.2, p.48-63.) Também em pdf.

K.

Alguns textos de Kafka:
Artigo de Modesto Carone sobre "Na Galeria": O realismo de Franz Kafka. Também em pdf.

Artigos de Sérgio Buarque de Holanda sobre Kafka: Kafkiana I - Kafkiana II - Kafkiana III.

Textos de Kafka (em inglês): The Kafka Project - Traz imagens dos manuscritos de O Processo.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Beckett e a Resistência Francesa


Trechos de um artigo de Terry Eagleton sobre Samuel Beckett, publicado em 2006.

[Beckett] não era um espírito independente do tempo, mas um protestante irlandês do sul de seu país, integrante de uma minoria assediada por alienígenas culturais cercados dentro do triunfalista Estado católico livre. Enquanto mansões anglo-irlandesas eram incendiadas por republicanos durante a guerra da independência, muitos protestantes fugiram para a Inglaterra. A paranóia, a insegurança crônica e a marginalidade consciente de si da obra de Beckett fazem bem mais sentido quando vistas sob essa luz.
[...]

Mas há uma qualidade distintamente irlandesa na deflação feita por Beckett do bombástico e extravagante, assim como há algo reconhecivelmente irlandês naquelas paisagens áridas e estagnadas onde, como vítimas coloniais, não se fazia nada a não ser ficar sentado, aguardando uma libertação ou um resgate.
Assim, não é surpreendente que esse mestre da arte dos despossuídos tenha se visto, em 1941, combatendo ao lado da Resistência francesa. Vivendo em Paris sob a ocupação alemã, ele se juntou a uma célula que fazia parte das Operações Especiais Britânicas e aplicou sua habilidade literária no trabalho de datilografar e traduzir informações secretas.
[...]

Fato incomum entre artistas modernistas, esse suposto divulgador do niilismo era militante da esquerda, em lugar da direita. Defensor do ambíguo e do indeterminado, sua arte provisória e fragmentária é supremamente antitotalitária.
É também uma arte nascida à sombra de Auschwitz, que conserva sua fidelidade ao silêncio e ao terror ao enxugar sua linguagem, seus personagens e suas narrativas quase até o desaparecimento. É a obra de um homem que compreendia que o realismo sóbrio e sombrio serve à causa da emancipação humana melhor do que a utopia sonhadora.


Fonte: Folha de S. Paulo, mais!, 09 de abril de 2006.
Texto original em inglês em The Guardian.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Filmes de Samuel Beckett



Dois filmes de Samuel Beckett no site UbuWeb:


Film (1965)

Not I (1973)

Guy Debord cineasta


Filmes de Guy Debord no site UbuWeb:

Paul Celan


Poemas de Paul Celan, lidos por ele mesmo (arquivos de áudio, em alemão), acompanhados do texto em tradução inglesa. (Norton Poets Online)

Todesfuge

Schwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends
wir trinken sie mittags und morgens wir trinken sie nachts
wir trinken und trinken
wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen die Sterne er pfeift seine Rüden herbei
er pfeift seine Juden hervor läßt schaufeln ein Grab in der Erde
er befiehlt uns spielt auf nun zum Tanz

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich morgens und mittags wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
Dein aschenes Haar Sulamith wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng

Er ruft stecht tiefer ins Erdreich ihr einen ihr andern singet und spielt
er greift nach dem Eisen im Gurt er schwingts seine Augen sind blau
stecht tiefer die Spaten ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags und morgens wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith er spielt mit den Schlangen
Er ruft spielt süßer den Tod der Tod ist ein Meister aus Deutschland
er ruft streicht dunkler die Geigen dann steigt ihr als Rauch in die Luft
dann habt ihr ein Grab in den Wolken da liegt man nicht eng

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags der Tod ist ein Meister aus Deutschland
wir trinken dich abends und morgens wir trinken und trinken
der Tod ist ein Meister aus Deutschland sein Auge ist blau
er trifft dich mit bleierner Kugel er trifft dich genau
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt uns ein Grab in der Luft
er spielt mit den Schlangen und träumet der Tod ist ein Meister aus Deutschland

dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith

Fonte: http://www.celan-projekt.de/


FUGA DA MORTE

Leite negro da madrugada nós o bebemos de noite
nós o bebemos ao meio-dia e de manhã nós o bebemos de noite nós o bebemos bebemos
cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado
Um homem mora na casa bole com cobras escreve
escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete
escreve e se planta diante da casa e as estrelas faíscam ele assobia para os seus Mastins
assobia para os seus judeus manda cavar um túmulo na terra
ordena-nos agora toquem para dançar

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos de manhã e ao meio-dia nós te bebemos de noite
nós bebemos bebemos
Um homem mora na casa e bole com cobras escreve
escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete
Teu cabelo de cinzas Sulamita cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado
Ele brada cravem mais fundo na terra vocês aí cantem e toquem
agarra a arma na cinta brande-a seus olhos são azuis
cravem mais fundo as pás vocês aí continuem tocando para dançar

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos ao meio-dia e de manhã nós te bebemos de noite
nós bebemos bebemos
um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete
teu cabelo de cinzas Sulamita ele bole com cobras
Ele brada toquem a morte mais doce a morte é um dos mestres da Alemanha
ele brada toquem mais fundo os violinos vocês aí sobem como fumaça no ar
aí vocês têm um túmulo nas nuvens lá não se jaz apertado

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos ao meio-dia a morte é um dos mestres da Alemanha
nós te bebemos de noite e de manhã nós bebemos bebemos
a morte é um dos mestres da Alemanha seu olho é azul
acerta-te com uma bala de chumbo acerta-te em cheio
um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete
ele atiça seus mastins sobre nós e sonha a morte é um dos mestres da Alemanha

teu cabelo de ouro Margarete
teu cabelo de cinzas Sulamita


(Tradução de Modesto Carone)
Fonte:
Folha de S. Paulo, domingo, 19 de agosto de 1973.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Um documento histórico

Carta aberta de Hans Magnus Enzensberger, recunciando ao emprego em uma universidade americana, publicada em The New York Review of Books, em 29 de fevereiro de 1968. O texto original em inglês encontra-se aqui.
A experiência cubana em que Enzensberger se lançaria depois desta carta resultou no magnífico poema O Naufrágio do Titanic (1978).

Sr. Edwin D. Etherington,
Presidente,
Universidade de Wesleyan,
Middletown, Conn.

Caro Sr. Presidente,
Venho pedir-lhe que aceite meu afastamento do cargo de Fellow do Centro de Estudos Avançados da Universidade de Wesleyan. Ao mesmo tempo, desejo agradecer, da melhor maneira possível, pela hospitalidade que demonstrou durante minha estadia aqui. O mínimo que devo ao senhor, à faculdade e aos alunos é uma exposição das razões por que estou deixando Wesleyan.
Deixe-me começar com algumas considerações elementares. Acredito que a classe que governa os Estados Unidos da América, e o governo que implementa sua política, é o mais perigoso grupo de homens da Terra. De um modo ou de outro, e num nível diferente, essa classe é uma ameaça para qualquer um que não seja parte dela. Ela está se empenhando numa guerra não-declarada contra mais de um bilhão de pessoas; suas armas vão do bombardeamento saturado até as mais delicadas técnicas de persuasão; seu alvo é estabelecer o seu próprio predomínio político, econômico e militar sobre qualquer outro poder no mundo. Seu inimigo mortal é a mudança revolucionária.
Muitos americanos estão profundamente preocupados com o estado de sua nação. Rejeitam a guerra que se empreende em seu nome contra o povo do Vietnam. Procuram maneiras e meios de acabar com a guerra civil latente nos guetos das cidades americanas. Mas a maioria deles ainda se agarra à idéia de que essas crises são acidentes desafortunados, decorrentes da administração deficiente e da falta de entendimento: erros trágicos da parte de um poder mundial que de outro modo seria pacífico, são e bem-intencionado.
Não posso concordar com tal interpretação. A guerra do Vietnam não é um fenômeno isolado. É o resultado mais visível e, ao mesmo tempo, o mais sangrento teste de uma política internacional coerente que é aplicada aos cinco continentes. A classe dominante dos EEUU tomou posição nas lutas armadas da Guatemala e da Indonésia, do Laos e da Bolívia, da Coréia e da Colômbia, das Filipinas e da Venezuela, do Congo e da República Dominicana. Essa não é uma lista exaustiva. Muitos outros países são governados, com apoio americano, por meio da opressão, da corrupção e da fome. Ninguém pode mais sentir-se seguro, nem na Europa, nem mesmo nos próprios EEUU.
Não há nada de surpreendente ou original na simples verdade que estou afirmando aqui. Não tenho espaço para qualificá-la e diferenciá-la de maneira científica. Outros, muitos deles scholars americanos como Baran e Horowitz, Huberman e Sweezy, Zinn e Chomsky, o fizeram detalhadamente. Essa verdade foi chamada de antiquada, entediante e retórica; conseqüência de uma imaginação paranóica ou simples propaganda comunista. Tais mecanismos de defesa são parte do equipamento padrão do intelectual ocidental. Como os encontrei com freqüência por aqui, tomo a liberdade de examiná-los mais de perto.
O primeiro argumento é realmente uma questão de semântica. Nossa sociedade parecia propensa a ser permissiva a respeito de antigos tabus de linguagem. Ninguém mais fica chocado com os antiqüíssimos e indispensáveis palavrões. Ao mesmo tempo, uma nova safra de palavras foi banida, por comum consentimento, da sociedade educada: palavras como exploração e imperialismo. Elas adquiriram algo de obsceno. Cientistas políticos passaram a usar paráfrases e circunlóquios que soam como os eufemismos neuróticos dos vitorianos. Obviamente, é mais fácil abolir a palavra exploração do que aquilo que ela designa; mas livrar-se da palavra não é livrar-se do problema.
Um segundo mecanismo de defesa é usar a psicologia como escudo. Disseram-me que é doentio e paranóico conceber um poderoso grupo de pessoas que são um perigo para o resto do mundo. Isso equivale a dizer que em lugar de ouvir seus argumentos é melhor observar o paciente. Mas não é fácil defender-se contra psiquiatras amadores. Devo limitar-me a alguns pontos essenciais. Não imagino uma conspiração, já que não há necessidade de tal coisa. Uma classe social e, especialmente, uma classe dominante, não se mantém unida por laços secretos, mas por interesses comuns e muito evidentes. Não fabrico monstros. Todos sabem que presidentes de bancos, generais e industriais militares não se parecem com demônios de revista em quadrinhos. Eles são cavalheiros gentis, de boas maneiras, possivelmente amantes de música de câmara, com um pendor filantrópico na cabeça. Não faltava gente assim nem na Alemanha dos anos 30. Sua insanidade moral não decorre do caráter individual, mas de sua função social.
Finalmente, há um mecanismo de defesa político operando na afirmação de que tudo o que escrevo aqui é só propaganda comunista. Não tenho por que temer essa honrosa acusação. Ela é imprecisa, vaga e irracional. Em primeiro lugar, a palavra comunismo, usada no singular, tornou-se um tanto sem sentido. Cobre uma ampla variedade de idéias conflitantes; algumas delas até se excluem mutuamente. Além disso, minha opinião a respeito da política externa americana é compartilhada por liberais gregos e arcebispos latino-americanos, camponeses noruegueses e industriais franceses: pessoas que geralmente não são consideradas como parte da vanguarda do “Comunismo”.
O fato é que a maioria dos americanos não tem idéia de como o seu país é visto pelo mundo externo. Eu vi o olhar que os segue: turistas nas ruas do México, soldados de partida em cidades do Extremo Oriente, homens de negócios na Itália ou Suécia. O mesmo olhar é lançado para suas embaixadas, seus destróiers, seus cartazes ao redor do mundo todo. É um olhar terrível, porque não faz distinções nem compensações. Direi por que reconheço esse olhar. É porque sou alemão. É porque o senti em mim mesmo.
Se você tenta analisá-lo, encontra uma mistura de desconfiança e ressentimento, temor e inveja, desprezo e ódio aberto. Esse olhar se dirige a seu Presidente, para quem dificilmente há capital no mundo onde ele possa mostrar sua face em público; mas dirige-se também para a gentil velhinha atravessando a ilha no vôo de Delhi a Benares. É um olhar indiscriminado, maniqueísta. Não gosto dele. Não compartilho da crença de seu Presidente na corrupção coletiva e na culpa coletiva. “Não esqueçam”, disse ele a seus soldados na Coréia, “há somente 200 milhões de nós num mundo de 3 bilhões. Eles querem o que nós temos, e nós não vamos dar a eles.” É perfeitamente verdadeiro que todos nós tomamos uma parte na pilhagem do Terceiro Mundo. Economistas como Dobb e Bettelheim, Jalée e Robinson apresentaram amplas evidências para a alegação de que os países pobres, que estamos subdesenvolvendo, subsidiam nossas economias. Mas certamente o Sr. Johnson está exagerando a questão quando sugere que o povo americano é uma corporação gigante, una e sólida, lutando pelos despojos. Há mais para admirar nos EEUU do que os olhos do Sr. Johnson. Encontro pouca coisa na Europa que pudesse comparar com a luta travada pelas pessoas do SNCC, do SDS e do Resist. E posso acrescentar que lamento o ar de superioridade moral que muitos europeus hoje em dia afetam com respeito aos EEUU. Parecem considerar um mérito pessoal que seus próprios impérios tenham sido esmagados. Isso, claro, é nonsense hipócrita.
Contudo, existe algo como responsabilidade política por aquilo que seu próprio país está fazendo com o resto do mundo, como os alemães descobriram à sua própria custa depois das duas Guerras Mundiais. Em mais de uma maneira, o estado de sua União me lembra o estado de meu próprio país na metade dos anos 30. Antes que você rejeite essa comparação, peço que reflita que ninguém ouviu ou pensou em câmaras de gás naquela época; que os respeitáveis homens de Estado recusaram crer que a Alemanha tinha pretendido dominar o mundo. É claro, todos puderam ver que havia muita discriminação racial e perseguição acontecendo; o orçamento dos armamentos cresceu a uma taxa alarmante; e havia crescente envolvimento na guerra contra a revolução espanhola.
Mas aqui minha analogia se desfaz. Pois não só nossos senhores atuais possuem um poder destrutivo com que os nazistas nunca poderiam sonhar; eles também alcançaram um grau de sutileza e sofisticação desconhecido nos velhos tempos crus. Hoje, a oposição verbal corre o risco de tornar-se um esporte inofensivo, autorizado, bem-regulamentado e, até certo ponto, até encorajado pelos poderosos. As universidades se tornaram um campo favorito para esse jogo ambíguo. É claro, somente um dogmático do tipo mais abominável poderia argumentar que a censura e a repressão aberta seriam preferíveis à liberdade precária e enganadora que estamos gozando agora. Mas, por outro lado, somente um tolo poderia ignorar que essa mesma liberdade criou novos álibis, armadilhas e dilemas para aqueles que se opõem ao sistema. Levei três meses para perceber que as vantagens que vocês me dão terminariam por desarmar-me; que, ao aceitar seu convite e sua gratificação, perdi credibilidade; e que o mero fato de estar aqui nesses termos iria desvalorizar o que quer que eu tivesse a dizer. “Ao julgar um intelectual, não basta examinar suas idéias: é a relação entre suas idéias e seus atos que conta.” Esse conselho, dado por Régis Debray, tem certa relação com minha situação atual. Para ficar claro que realmente acredito no que digo, tenho que dar um basta nisso.
É algo necessário, mas dificilmente suficiente. Pois uma coisa é estudar o imperialismo no conforto, e outra bem diferente enfrentá-lo onde ele mostra sua face menos benevolente. Acabei de voltar de uma viagem a Cuba. Vi os agentes da CIA no aeroporto da cidade do México tirando fotos de cada passageiro que partia para Havana; vi os contornos dos navios de guerra americanos na costa cubana; vi os vestígios da invasão americana na Baía dos Porcos; vi a herança de uma economia imperialista e as cicatrizes que deixou no corpo e na mente de um pequeno país; vi o cerco diário que força os cubanos a importar cada colher que usam da Tchecoslováquia e cada galão de gasolina da União Soviética, porque os EEUU têm tentado por sete anos fazê-los passar fome até se renderem.
Decidi ir a Cuba para trabalhar lá por um período de tempo substancial. Isso não é um sacrifício de minha parte; apenas sinto que posso aprender mais com o povo cubano e ser de maior utilidade para eles do que poderia ser para os alunos da Universidade de Wesleyan.
Esta carta é uma maneira pobre de agradecer por sua hospitalidade, e lamento muito que seja tudo que eu tenha a oferecer após três meses pacíficos. Percebo, é claro, que meu caso, em si mesmo, não tem importância ou interesse para o mundo externo. Contudo, as questões que levanta não dizem respeito a mim apenas. Por isso, quero respondê-las, da melhor maneira possível, em público.
Cordialmente,
Hans Magnus Enzensberger
31 de janeiro de 1968

Schwarz comenta "Teatro ao sul" de Gilda


Texto de Roberto Schwarz comentando o ensaio "Teatro ao Sul", de Gilda de Mello e Souza, sobre A Moratória, de Jorge Andrade. (O Estado de S. Paulo, 20 de fevereiro de 2008.)

Enzensberger - poemas e entrevista

“Toda literatura é uma realização coletiva” (“Every literature is a collective effort”).

Hans Magnus Enzensberger lê alguns de seus poemas em inglês (e em alemão) e conversa com Charles Simic. (Arquivo de áudio, em inglês. Gravado em 11 de dezembro de 2002, Lannan Foundation.)

Beatriz Sarlo

A revista argentina Punto de Vista, fundada em 1978 por Beatriz Sarlo, Carlos Altamirano e Ricardo Piglia, foi encerrada com o número 90, de abril-maio de 2008. (Ver o editorial de despedida.)

Palestra de Beatriz Sarlo (vídeo) - A literatura e a arte na cultura da imagem (08 de julho de 2008, na Pinacoteca do Estado de São Paulo).

Livro de Beatriz Sarlo - Borges: A Writer on the Edge (1993), na íntegra, em inglês.

domingo, 26 de outubro de 2008

A triste ciência



Minima Moralia, de Theodor W. Adorno, em inglês.


"Quem quiser saber a verdade acerca da vida imediata tem que investigar sua configuração alienada, investigar os poderes objetivos que determinam a existência individual até o mais recôndito nela." (Adorno)

Peter Bürger sobre Dialética do Esclarecimento

Respondendo a uma enquete feita pelo Die Zeit em 2000, sobre "Meu livro do século", Peter Bürger escolheu a Dialética do Esclarecimento, de Adorno e Horkheimer. Uma tradução do texto de Bürger se encontra aqui. Abaixo, o original alemão.

Mein Jahrhundertbuch
Peter Bürger: "Dialektik der Aufklärung" von Max Horkheimer und Theodor W. Adorno

Es ist heute schwer mehr vorstellbar, was für die Generation der in der Adenauer-Republik der fünfziger Jahre Großgewordenen die Entdeckung der Texte Adornos bedeutete, als sie Anfang der sechziger Jahre in der edition suhrkamp und anderen Taschenbuchreihen zu erscheinen begannen: Eingriffe, Drei Studien zu Hegel, Ohne Leitbild, Prismen, Kulturkritik und Gesellschaft. Was bislang eher ein dumpfes Unbehagen an den Verhältnissen war, wurde hier auf den Begriff gebracht. Was wir als Atemnot erlebten, wurde Gegenstand der Kritik.


Der Weg zur Lektüre der Dialektik der Aufklärung war damit allerdings noch nicht gebahnt. Auf das Kapitel über die Sirenen-Episode der Odyssee stieß ich Mitte der sechziger Jahre beim Blättern im ersten Jahrgang der von Peter Huchel in Ost-Berlin herausgegebenen Zeitschrift Sinn und Form neben Texten von Benjamin, Block, Lukács und Werner Krauss. Das Buch aber war weder im Handel noch in der Bonner Universitätsbibliothek zu bekommen; lesen konnte ich es schließlich in der Präsenzbibliothek des Bundestages. Die Voraussetzungen zu seinem Verständnis hatten mir die Schule und die Universität der fünfziger Jahre freilich nicht vermittelt, sie mußte ich mir im Selbststudium erarbeiten.

Doch schon damals, so will mir heute scheinen, faszinierte mich etwas, was ich später in Hegels Phänomenologie des Geistes wiederfinden sollte: ein Denken, das seinen Anstoß aus der Literatur empfing. Zwar irritierte mich zunächst der Gestus der Darstellung, der jeder historischen Analyse zu spotten schien, wenn die Autoren den an den Mast gefesselten Odysseus, der dem Gesang der Sirenen lauscht, mit einem Konzertbesucher, seine Gefährten aber, die mit verstopften Ohren aus Leibeskräften rudern müssen, mit modernen Fabrikarbeitern vergleichen. Nach und nach aber wurde mir deutlich, daß es hier nicht um Interpretation ging, sondern darum, aus der Konstellation von Gestalten und Ereignissen des vorzeitlichen Epos die Konturen des modernen Subjekts herauszulesen. Offenbar machten die Autoren sich die Tatsache zunutze, daß das Homerische Epos eine Vielzahl von Kategorien - Lust und Entsagung, Selbstbehauptung und Selbstpreisgabe, Herrschaft, Arbeit und Kunst - in einen komplexen und zugleich beweglichen Zusammenhang brachte, der das Subjekt als Resultat eines dialektischen Prozesses zu denken erlaubte: Das Ich lebt nicht zunächst in der unmittelbaren Befriedigung seiner Bedürfnisse, auf die es dann zu verzichten lernt; vielmehr verdankt es seine Selbstbehauptung dem Verzicht, weshalb sich ihm das Bild des Glücks mit dem Verlangen nach Selbstverlust verbindet. "Furchtbares hat die Menschheit sich antun müssen, bis das Selbst, der identische, zweckgerichtete, männliche Charakter des Menschen geschaffen war, und etwas davon wird noch in jeder Kindheit wiederholt. (...) Die Angst, das Selbst zu verlieren und mit dem Selbst die Grenze zwischen sich und anderem Leben aufzuheben, die Scheu vor Tod und Destruktion, ist einem Glücksversprechen verschwistert, von dem in jedem Augenblick die Zivilisation bedroht war." Sätze wie diese erhellten nicht nur das Unbehagen an der Gesellschaft, sie eröffneten zugleich einen Zugang zu eigenen Ambivalenzerfahrungen, deren gesellschaftliche Bedingungen sie benannten. Freilich, daß es Glück nur im Bereich der Kunst geben sollte, aus dem die Praxis gewaltsam verbannt war, das wollte ich damals nicht wahrhaben und suchte in den Schriften der Surrealisten nach den Spuren eines Denkens, für das das ganz Andere jederzeit möglich war.

Peter Bürger, geboren 1936, ist Professor für Allgemeine Literaturwissenschaften und Romanische Literatur an der Universität Bremen

Max Horkheimer/Theodor W. Adorno: Dialektik der Aufklärung. Philosophische Fragmente; Fischer Taschenbuch Verlag, Frankfurt am Main 1997; 275 S., 19,90 DM.


Fonte: Die Zeit

Dialética do Esclarecimento

Dialética do Esclarecimento, de Adorno e Horkheimer, e outros textos de Adorno.
Ou:
Dialética do Esclarecimento, de Adorno e Horkheimer, e textos sobre o livro.

Escrito em 1944, o diagnóstico de época feito pelos frankfurtianos históricos, contrariando todas as aparências do Welfare, mostrava que o capitalismo continuava igual a si mesmo: a lei do valor funcionando inexorável sob a fachada da trégua social e do bem-estar; e o sistema sempre à beira do colapso. A contradição fundamental continuava ali, mas agora sob a forma de uma simbiose demoníaca entre as forças produtivas e as relações de produção - indicando-se o vínculo especular entre o nazismo e a indústria cultural.

sábado, 25 de outubro de 2008

Roberto Schwarz sobre Machado

Um artigo de Roberto Schwarz sobre a virada de Machado de Assis, inédito em português. (Não confundir com o ensaio "A viravolta machadiana".)

Em inglês: A Brazilian Breakthrough (New Left Review, n. 36, November-December 2005). Também em pdf.
Em espanhol: Un pionero brasileño.

Peter Bürger - Teoria da Vanguarda


Saiu em português (do Brasil) o livro clássico de Peter Bürger, Teoria da Vanguarda, em tradução de José Pedro Antunes, com orelha de Iumna Maria Simon. Originalmente publicado em 1974, o ensaio investiga as vanguardas históricas do início do século XX, em discussão polêmica com Lukács, Benjamin e Adorno.

Outra entrevista de Roberto Schwarz

"O grau de empulhação na mídia, e aliás também na Universidade, é muito alto. Como é que este concentrado de mentiras e má-fé se deposita dentro das pessoas? Se estas questões fossem examinadas de perto, com um mínimo de acuidade e franqueza, muita gente ilustre de nosso mundo dito cultural ia ficar com cara de malfeitor." (Roberto Schwarz)

Entrevista de Roberto Schwarz, concedida a Fernando Haddad e Maria Rita Kehl: Do lado da viravolta (Teoria e Debate, n. 27, dez. 1994 / jan.-fev. 1995).

Entrevista de Roberto Schwarz

Entrevista de Roberto Schwarz, em que fala sobre o Seminário Marx, a crítica de Antonio Candido, o ensaio de Adorno sobre Beckett, o New Criticism, o Concretismo e outros assuntos: Um crítico na periferia do capitalismo (Pesquisa Fapesp, n. 98, abril de 2004).

Radicalismos


Três artigos de Antonio Candido:

Textos de Antonio Candido

Alguns textos de Antonio Candido disponibilizados pelo PACC da UFRJ (não sabemos se com permissão do autor):

Roberto Schwarz - Leituras em competição

Ensaio de Roberto Schwarz sobre a recepção crítica da obra de Machado de Assis, com uma análise da crônica "O punhal de Martinha": Leituras em competição (Novos Estudos Cebrap, n. 75, julho de 2006). Também aqui.

Roberto Schwarz na Flip 2008

Roberto Schwarz fala sobre Machado de Assis, após palestra sobre Dom Casmurro.



Karl Marx - Grundrisse

Há dez anos, houve muitas comemorações dos 150 anos do Manifesto Comunista.
"Como um sinal de alarme entre duas catástrofes, o
Manifesto Comunista ainda continua soando, ontem como hoje, para despertar a humanidade do mesmo pesadelo ancestral da dominação." (Paulo Arantes).
Alguns textos sobre o Manifesto:
Mas poucos parecem estar comemorando os 150 anos dos Grundrisse (Grundrisse der Kritik der Politischen Ökonomie - Fundamentos da Crítica da Economia Política), que Marx rascunhou no inverno de 1857-1858. O manuscrito, publicado pela primeira vez em 1939 (em Moscou), só se tornou um pouco mais conhecido depois da edição alemã de 1953. Para alguns, é apenas um rascunho preparatório para O Capital; para outros, é a obra mais abrangente de Marx (apesar de fragmentária), porque nas suas quase mil páginas são abordados assuntos de que ele não se ocupou nos outros escritos: o projeto esboçado nos Grundrisse previa seis seções, e O Capital é a elaboração de apenas uma dessas seis seções.
Recentemente,
Eric Hobsbawm deu uma entrevista sobre a atualidade de Marx (A crise do capitalismo e a importância atual de Marx), a propósito da publicação de um livro coletivo (em inglês) sobre os Grundrisse.