domingo, 6 de setembro de 2009

Arnold Schönberg - Noite Transfigurada

O poema sinfônico Verklärte Nacht (Noite Transfigurada), concluído em 1899, foi a primeira obra composta por Schönberg que ganhou algum reconhecimento de público e crítica. Baseado no poema homônimo de Richard Dehmel e escrito inicialmente para sexteto de cordas (dois violinos, duas violas e dois violoncellos), sofreu em 1917 readaptação para o formato da orquestra de cordas, sendo revisado pela última vez em 1943.

Apesar de, não sem estranhamento, ter agradado à crítica e constar até hoje como uma de suas obras mais "palatáveis", nele já se percebe o rigor estrutural e a expressividade tensa que será o traço distintivo do compositor de peças como Erwartung e Pierrot Lunaire.

Muito de tal impressão se deve ao fato de que, embora a peça seja tonal, trabalha também com ambiguidades harmônicas (ou seja, o mesmo evento musical pode ser interpretado pelo ouvido segundo funções harmônicas diferentes, dependendo do centro tonal a que é referido). Fator de composição este que, levado às últimas consequências, fará com que Schönberg repense todo o sistema tonal nas décadas seguintes.

Além disso a peça se constitui de cromatismos (desenvolvimento harmonico-melódico por semi-tons), tessitura contrapontística densa e cerrada, bem como o amplo uso da polimetria (concepção de frases baseadas em figuras rítmicas heterogêneas em relação à estrutura regular dos compassos).

Com isso, apesar de ser praticamente uma peça de estreia (op.4), ela já reelabora de maneira muito própria conquistas formais do romantismo tardio (quanto ao primeiro aspecto, Wagner, quanto aos outros dois, Brahms), explorando elementos da música ocidental que aguardavam desenvolvimento (coisa que se costuma atribuir apenas a sua música pós-tonal).

Abaixo, tradução do poema de Dehmel para o Inglês, acompanhada de links para a execução da obra pela Orquestra de Câmara Nacional da Moldávia, com regência de Cristian Florea.


Transfigured Night

Two people are walking through a bare, cold wood;
the moon keeps pace with them and draws their gaze.
The moon moves along above tall oak trees,
there is no wisp of cloud to obscure the radiance
to which the black, jagged tips reach up.

A woman's voice speaks:

"I am carrying a child, and not by you.
I am walking here with you in a state of sin.
I have offended grievously against myself.
I despaired of happiness,
and yet I still felt a grievous longing
for life's fullness, for a mother's joys
and duties; and so I sinned,
and so I yielded, shuddering, my sex
to the embrace of a stranger,
and even thought myself blessed.
Now life has taken its revenge,
and I have met you, met you."

She walks on, stumbling.
She looks up; the moon keeps pace.
Her dark gaze drowns in light.

A man's voice speaks:

"Do not let the child you have conceived
be a burden on your soul.
Look, how brightly the universe shines!
Splendour falls on everything around,
you are voyaging with me on a cold sea,
but there is the glow of an inner warmth
from you in me, from me in you.
That warmth will transfigure the stranger's child,
and you bear it me, begot by me.
You have transfused me with splendour,
you have made a child of me."

He puts an arm about her strong hips.
Their breath embraces in the air.
Two people walk on through the high, bright night.

(Tradução: Mary Whittall)


http://www.youtube.com/watch?v=D84sLB8tUMo

http://www.youtube.com/watch?v=SiFiKLdq1gI&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=DdIN703W5pY&feature=related

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