quarta-feira, 8 de julho de 2009

Adorno - Dialética Negativa


Saiu finalmente a tradução brasileira de Dialética Negativa, de Adorno (obra já postada aqui em tradução inglesa).

Um trecho da nova tradução:
"Marx tinha acentuado a sua formulação do materialismo histórico contra o materialismo metafísico vulgar. Com isso, ele o introduziu na problemática filosófica, apesar de o materialismo vulgar, permanecendo aquém da filosofia, ter continuado a gesticular dogmaticamente. Desde então, o materialismo não é mais uma posição contrária a ser assumida por meio de uma resolução, mas a suma conceitual da crítica ao idealismo e à realidade pela qual o idealismo opta na medida em que a deforma. A formulação horkheimeriana da ‘teoria crítica’ não quer tornar o materialismo aceitável, mas sim trazer à autoconsciência junto a ele a razão pela qual ele não se distingue menos das explicações diletantes do mundo que da ‘teoria tradicional’ da ciência. Enquanto dialética, a teoria precisa – como em grande parte a teoria marxista – ser imanente, mesmo que ela negue por fim toda a esfera na qual ele se movimenta. Isso a diferencia de uma teoria meramente trazida de fora e, como a filosofia descobriu prontamente, de uma sociologia do saber impotente em relação a essa teoria. Essa sociologia do saber fracassa ante a filosofia, tomando por conteúdo de verdade a sua função social e seu condicionamento pelos interesses, uma vez que não adentra na própria crítica desse conteúdo e se comporta indiferentemente em relação a ele. Ela também fracassa ante o conceito de ideologia, a partir do qual ela cozinha sua abundante sopa popular. Pois o conceito de ideologia só é plenamente significativo em relação à verdade ou à não-verdade daquilo a que se aplica; não se pode falar de aparência socialmente necessária senão em vista daquilo que não seria nenhuma aparência e que certamente possuiria na aparência o seu signo. Cabe à crítica da ideologia proferir juízos sobre a parcela do sujeito e do objeto, assim como sobre a sua dinâmica. Ela desmente a falsa objetividade, o fetichismo dos conceitos, pela redução ao sujeito social; a falsa subjetividade, a pretensão por vezes velada até a invisibilidade de que o que é seja espírito, por meio da demonstração do engodo de sua inessência parasitária, assim como de sua hostilidade imanente ao espírito. Em contrapartida, o todo do conceito indistintamente total de ideologia termina no nada. No momento em que não se diferencia de nenhuma consciência correta, ele não serve mais para a crítica de uma consciência falsa. Na ideia de uma verdade objetiva, a dialética materialista torna-se necessariamente filosófica, apesar e em virtude de toda crítica à filosofia feita por ela."
Theodor W. Adorno - Dialética Negativa (1966)

E nunca é demais lembrar:
"Que o assim chamado marxismo ocidental em má hora reabilitou a filosofia, é um fato. E por má hora entenda-se a hora pesada do refluxo mundial da Revolução depois da derrota na Alemanha, sem falar no triunfo do stalinismo." "[...] com a maior inconsequência do mundo, ou consequência, dependendo da dimensão do marxismo sobre a qual as voltas da história fizeram recair a tônica, [Adorno] cancelou o papel de ator principal que cabia de direito à força de trabalho organizada em classe antagônica pelo capital, conservando não obstante tudo o mais do marxismo clássico, em primeiro lugar a teoria do valor-trabalho". (Paulo Arantes)

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