domingo, 31 de maio de 2009

Começar do começo

"Tente outra vez. Erre outra vez. Erre melhor." (Samuel Beckett)

Artigo de Slavoj Žižek - How to begin from the beginning (New Left Review, 2009); também em pdf.

Mediations

Número especial da revista Mediations (2007) sobre o Brasil, com textos de Paulo Arantes, Roberto Schwarz, Iná Camargo Costa, Francisco de Oliveira e Luiz Felipe de Alencastro (em inglês).

sábado, 30 de maio de 2009

Pressupostos do teatro épico


Palestra de Iná Camargo Costa - Brecht e o teatro épico (2005) (em pdf, no 4shared)
[Para baixar o arquivo, clicar no botão "Download now", esperar o link aparecer e clicar no link.]

domingo, 24 de maio de 2009

Mário e Pio

Sobre a correspondência de Mário de Andrade e Pio Lourenço Corrêa.

Texto de Gilda de Mello e Souza - O arcaico e o moderno (Piauí, 2009).


Entrevista de Antonio Candido:

''Pio discordava radicalmente do modernismo de Mário de Andrade''

Segundo o crítico Antonio Candido, o fazendeiro de Araraquara não aceitava as inovações literárias propostas pelo escritor

Ubiratan Brasil

O crítico Antonio Candido ainda guarda recordações afetivas de Pio Lourenço Corrêa, fazendeiro que se tornou o principal interlocutor de Mário de Andrade - e também seu, mantendo um contato constante de 1944 até o ano da morte de Corrêa, 1957. "Foi um dos homens mais inteligentes e originais que conheci", comenta ele, em entrevista ao Estado, realizada por e-mail. "Apesar de ser 43 anos mais moço, fui amigo dele."

Leia trechos da correspondência

Na introdução escrita para Pio & Mário, em que revela traços biográficos do fazendeiro, o crítico o descreve como um homem pequeno, magro, de feições corretas, voz grave e bem empostada, a serviço de uma dicção perfeita. "Possuía grande senso de humor, se divertia com facilidade e era conservador incomparável", comenta.

Candido acompanhou o trabalho de sua mulher, Gilda de Mello e Souza, na reunião de todo material relativo a Corrêa, que era seu tio-avô paterno. A intenção da pesquisadora era escrever um estudo detalhado sobre o fazendeiro. A morte, no entanto, em 2005, a impediu de dar a redação final.

Quem foi Pio Lourenço Corrêa, com o qual Mário de Andrade manteve a mais longa troca de cartas?

É bom esclarecer que não era tio de Mário de Andrade, embora este o trate assim o tempo todo na correspondência. Mário e os irmãos se acostumaram a este tratamento por imitação de um sobrinho de Pio Lourenço, com o qual conviveram em meninos. Mas era primo de sua mulher, Zulmira de Moraes Rocha. Pio Lourenço foi fazendeiro eficiente e homem muito culto, dedicado sobretudo aos estudos linguísticos. Como era um pouco maníaco, acabou tendo como preocupação central demonstrar sistematicamente que o nome da sua cidade significa "morada do sol", ou "cova onde nasce o sol", não "cova das araras". Neste sentido publicou um livro interessante: Monografia da Palavra Araraquara. Publicou também muitas dezenas de artigos sobre questões de linguística. Era extremamente conservador e, como se dizia, "sistemático", chegando a elaborar um modo de viver peculiar em sua chácara Sapucaia. Conhecia bem quatro línguas estrangeiras, pronunciando-as com perfeição, e tinha uma biblioteca de qualidade, que compreendia inclusive um setor de ciências naturais, das quais era amador. Apesar de severo e autoritário, era sociável, hospitaleiro e tinha uma conversa encantadora, marcada pelo senso de humor. Era notável a firmeza inflexível do seu caráter. Foi um dos homens mais inteligentes e originais que conheci, num convívio que durou até a sua morte em 1957, porque, apesar de ser 43 anos mais moço, fui amigo dele.

Como as cartas de Mário a Pio abrem caminho para a compreensão das angústias do escritor?

Na introdução deste livro, Gilda de Mello e Souza sugere, a meu ver com razão, que as relações de ambos tiveram certo caráter de apoio do mais velho ao mais moço. Muitas delas mostram Mário inquieto e deprimido, despertando no amigo uma atitude de quem conforta e estimula. É provável que esta tenha sido a base da grande amizade deles. Gilda observa também que o pai de Mário morreu num momento em que as relações com o filho não estavam afinadas, o que deve ter gerado algum remorso neste. Então, Pio Lourenço avultou como amparo e abrigo, tanto mais quanto Mário via nele, segundo diz numa carta, semelhança com seu pai: a mesma severidade intransigente, a mesma retidão sem quebra, a mesma disciplina. Pio Lourenço, do seu lado, foi amigo do pai de Mário, Carlos Augusto de Andrade, do qual era 26 anos mais moço, e tinha por ele não apenas admiração, mas veneração. Lembro que invocava o seu nome com muita frequência a propósito de vários assuntos.

Houve influência de Pio sobre Macunaíma, escrito na sua chácara?

A resposta é negativa. Mário escreveu o livro na chácara porque o impulso ocorreu lá. O quarto do casal e o quarto de hóspedes ficavam lado a lado, com portas contíguas dando para um pequeno vestíbulo. Estas portas tinham a parte superior de vidro fosco rugoso, de modo que era possível saber, de um, se a luz do outro estava acesa. Dona Zulmira queria que o primo dormisse cedo para descansar; ele, então, a fim de não alertá-la, ia para o grande banheiro privativo do quarto, fechava a porta e escrevia até quando quisesse, numa pequena mesa encimada por um espelho oval. Foi assim que redigiu de jato o famoso livro, mas retocou-o em seguida, inclusive na fazenda do irmão de dona Zulmira, Cândido de Moraes Rocha, onde contava episódios aos filhos pequenos deste. A mais velha, Maria Elisa, que tinha uns 11 ou 12 anos, foi quem sugeriu que Venceslau Pietro Pietra morresse afogado num tacho de macarronada. Pio Lourenço discordava radicalmente do modernismo e da escrita de Mário, mas noutros setores podiam trocar ideias: fala popular, ditos, tradições paulistas, problemas de linguística. Numa carta vemos que gostou de Os Filhos da Candinha, cuja escrita lhe pareceu mais ?normal?. A correspondência mostra que Mário discutia muita coisa com o amigo, do qual diferia intelectualmente. Mas se admiravam e eram unidos por um grande afeto.

Fonte: Estado, 24/04/2009.

Dylan Thomas

Coleção de 11 CDs (em mp3) com leituras de Dylan Thomas. O poeta galês lê seus próprios escritos e poemas de outros autores, clássicos (como Shakespeare, Milton) e modernos (como Yeats, W.H. Auden).


Dylan Thomas (1914-1953)

Dylan Thomas - The Caedmon Collection
Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 4, Parte 5, Parte 6, Parte 7, Parte 8, Parte 9, Parte 10, Parte 11. (Fonte: Salon)

***

Dylan Thomas lendo And death shall have no dominion (arquivo de áudio).

And death shall have no dominion

And death shall have no dominion.
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.

***

Extraordinária leitura de Lament, por Dylan Thomas (arquivo de áudio)

Lament

When I was a windy boy and a bit
And the black spit of the chapel fold,
(Sighed the old ram rod, dying of women),
I tiptoed shy in the gooseberry wood,
The rude owl cried like a tell-tale tit,
I skipped in a blush as the big girls rolled
Nine-pin down on donkey's common,
And on seesaw sunday nights I wooed
Whoever I would with my wicked eyes,
The whole of the moon I could love and leave
All the green leaved little weddings' wives
In the coal black bush and let them grieve.

When I was a gusty man and a half
And the black beast of the beetles' pews
(Sighed the old ram rod, dying of bitches),
Not a boy and a bit in the wick-
Dipping moon and drunk as a new dropped calf,
I whistled all night in the twisted flues,
Midwives grew in the midnight ditches,
And the sizzling sheets of the town cried, Quick!-
Whenever I dove in a breast high shoal,
Wherever I ramped in the clover quilts,
Whatsoever I did in the coal-
Black night, I left my quivering prints.

When I was a man you could call a man
And the black cross of the holy house,
(Sighed the old ram rod, dying of welcome),
Brandy and ripe in my bright, bass prime,
No springtailed tom in the red hot town
With every simmering woman his mouse
But a hillocky bull in the swelter
Of summer come in his great good time
To the sultry, biding herds, I said,
Oh, time enough when the blood runs cold,
And I lie down but to sleep in bed,
For my sulking, skulking, coal black soul!

When I was half the man I was
And serve me right as the preachers warn,
(Sighed the old ram rod, dying of downfall),
No flailing calf or cat in a flame
Or hickory bull in milky grass
But a black sheep with a crumpled horn,
At last the soul from its foul mousehole
Slunk pouting out when the limp time came;
And I gave my soul a blind, slashed eye,
Gristle and rind, and a roarers' life,
And I shoved it into the coal black sky
To find a woman's soul for a wife.

Now I am a man no more no more
And a black reward for a roaring life,
(Sighed the old ram rod, dying of strangers),
Tidy and cursed in my dove cooed room
I lie down thin and hear the good bells jaw--
For, oh, my soul found a sunday wife
In the coal black sky and she bore angels!
Harpies around me out of her womb!
Chastity prays for me, piety sings,
Innocence sweetens my last black breath,
Modesty hides my thighs in her wings,
And all the deadly virtues plague my death!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Instrução para Sísifo

Instrução para Sísifo
Hans Magnus Enzensberger

Não tem perspectiva o que fazes. Bem:
tu o compreendeste, admite,
mas não te conformes,
homem da pedra. Ninguém
te agradece; linhas de giz,
que a chuva indolente lambe,
marcam a morte. Não te regozijes
antes da hora, o que não tem futuro
não é sucesso. Com
trágica própria tuteiam-se monstros,
espantalhos, áugures. Cala,
fala com o sol dois dedos de prosa
enquanto a pedra rola, mas
não te deleites com a tua impotência,
aumenta de um quintal
a ira no mundo, de um grão.
Faltam homens que realizem
em silêncio o que não tem futuro
e arranquem como grama a esperança,
seus risos, o futuro, a rolarem,
a rolarem sua ira sobre as montanhas.

(Trad. Kurt Scharf e Armindo Trevisan)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Trabalhar cansa


LAVORARE STANCA
CESARE PAVESE

Traversare una strada per scappare di casa
lo fa solo un ragazzo, ma quest`uomo que gira
tutto il giorno le strade, non è piu un ragazzo
e non scappa di casa.

Ci sono d`estate
pomeriggi che fino le piazze son vuote, distese
sotto il sole che sta per calare, e quest`uomo, che giunge
per un viale d`inutili piante, si ferma.
Val la pena esser solo, per essere sempre piú solo?
Solamente girarle, le piazze e le strade
sono vuote. Bisogna fermare una donna
e parlarle e deciderla a vivere insieme.
Altrimenti, uno parla da solo. È per questo che a volte
c`è lo sbronzo notturno che attacca discorsi
e racconta i progetti di tutta la vita.

Non è certo attendendo nella piazza deserta
que s`incontra qualcuno, ma chi gira le strade
si sofferma ogni tanto. Se fossero in due,
anche andando per strada, la casa sarebbe
dove c`è quella donna e varrebe la pena.
Nella notte la piazza ritorna deserta
e quest`uomo, che passa, non vede le case
tra le inutili luci, non leva piú gli occhi:
sente solo il selciato, che han fatto altri uomini
dalle mani indurite, como sono le sue.
Non è giusto restare sulla piazza deserta.
Ci sara certamente quella donna per strada
que, pregatta, vorrebbe dar mano alla casa.


TRABALHAR CANSA
CESARE PAVESE

Travessar uma rua fugindo de casa
só um menino o faria, mas este homem que passa
todo o dia nas ruas não é mais menino
e não foge de casa.

Em pleno verão,
até as praças se tornam vazias de tarde, deitadas
sob o sol que começa a cair, e este homem que chega
por um parque de plantas inúteis detém-se.
Vale a pena ser só para estar cada vez mais sozinho?
Simplesmente vagar, pois as praças e ruas
estão ermas. Forçoso é abordar uma mulher
e falar-lhe e fazê-la viver com você.
Do contrário, se fala sozinho. É por isso que às vezes
algum bêbado à noite dispara discursos
e repassa os projetos de toda sua vida.

Certamente não é esperando na praça deserta
que se encontram pessoas, mas quem anda nas ruas
se detém vez ou outra. Estivessem a dois,
mesmo andando na rua, sua casa estaria
onde está a mulher. Valeria a pena.
Mas de noite essa praça retorna ao vazio
e este homem que passa não vê as fachadas
entre luzes inúteis nem ergue seus olhos:
sente só o ladrilho que outros homens fizeram
com mãos secas e duras, assim como as suas.
Não é justo deixar-se na praça deserta.
Com certeza há de andar pela rua a mulher
que, chamada, viria ajudar com a casa.

(Trad. Maurício Santana Dias)


***

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi
CESARE PAVESE

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi
questa morte che ci accompagna
dal mattino alla sera, insonne,
sorda, come un vecchio rimorso
o un vizio assurdo. I tuoi occhi
saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio.
Cosí li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi
nello specchio. O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla.

Per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.
Sarà come smettere un vizio,
come vedere nello specchio
riemergere un viso morto,
come ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.

(1950)


Virá a morte e terá os teus olhos
CESARE PAVESE

Virá a morte e terá os teus olhos
esta morte que nos acompanha
da manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra vã,
um grito emudecido, um silêncio.
Assim os vejo todas as manhãs
quando sobre ti te inclinas
ao espelho. Ó cara esperança,
nesse dia saberemos também nós,
que és a vida e és o nada.

Para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e terá os teus olhos.
Será como deixar um vício,
como ver no espelho
re-emergir um rosto morto,
como ouvir lábios cerrados.
Desceremos ao vórtice mudo.

(Trad. Jorge de Sena)




domingo, 17 de maio de 2009

Žižek no Roda Viva

Slavoj Žižek no Roda Viva (TV Cultura)




Entrevista gravada em 15/10/2008 e exibida em 02/02/2009.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Marcel Mauss


Obras de Marcel Mauss, em francês, incluindo Sociologie et Anthropologie (1950).

terça-feira, 12 de maio de 2009

Georg Simmel



Georg Simmel - As grandes cidades e a vida do espírito (1903); também em pdf.

Antologia de textos de Simmel em inglês - The Sociology of Georg Simmel. Ed. Kurt H. Wolff.